Chegar a meio da Rua Senhora do Monte, ali quando ela curva, e ter saudades da Ásia só é estranho para quem nunca se maravilhou com a capacidade de o homem entrever o belo no caos. Não é para todos, já se sabe. Há muito boa gente que olha essa região do mundo sem conseguir abstrair-se da confusão, da sujidade e dos amendoins em quase tudo o que é molho.
Farei, então, parte dos happy few, seja. Dos que se pelam por telhados em bico meio tapados por teias de fios de eletricidade, legumes vendidos em barcos junto a margens feitas lixeiras, e comidas com tanto satay que alguém dado a choques anafiláticos se ficaria num ai à mesa.
Serve esta entrada para escrever que dar pela Vivenda Serra no número 20 da Rua Senhora do Monte, na Graça, é como receber um doce no meio de um dia amargo e concluir que o agridoce torna esta vida uma delícia. Pequeníssima entre dois prédios altos, ela ainda guarda o portão original de acesso à Vivenda Rosalina, ambas a fazerem parte do bairro Estrella d’Ouro, mandado construir no início do século passado pelo empresário galego Agapito Serra Fernandes. Apesar das suas estatuetas, azulejos e varanda florida, temos de terminar esta croniqueta a escrever que é por estar agora entalada entre dois vizinhos modernaços que a Vivenda Serra ganha mais sabor.