Não custa nada. É entrar pelo portão de cima da Tapada das Necessidades, na Rua do Borja, e descer pela direita da Casa do Regalo, um palacete amarelo que no tempo dos reis era considerado um pavilhão. Olha-se o janelão de frente para a cascata sem água e não é difícil imaginar D. Amélia atrás de um cavalete, de pincel na mão e olho no rio lá ao fundo.
Reza a história que foi D. Carlos, o senhor seu marido, quem trouxe os primeiros catos para a tapada. Colecionava-os, coisa estranha, pensará quem nunca passeou pela Cacteira ou Jardim dos Catos, dois nomes usados para descrever a zona a nascente da Casa do Regalo já classificada de interesse público.
Se gostamos de lá chegar por cima e pela direita é porque aproveitamos para ver uma vez mais as estátuas que encimam o lago onde termina a cascata. E para passar do romântico ao exótico num ai.
O passeio é feito por caminhos de lajes, com espaços entre elas bons para estorcegar um pé e alguns degraus que ajudam a vencer a pendente. Ouvem-se os carros na ponte e aves de todos os cantares, cheira a pinheiro, pisam-se trevos e azedas, e tenta-se adivinhar: se isto é uma aloe e aquilo uma yucca, estas só podem ser opuntia, boas para a fotografia. Sexta, 1 de abril, entra o horário de verão e ganha-se tempo para ver como os catos têm espinhos mesmo depois do Acordo Ortográfico.
Jardim de catos sem espinhas
Crónica Por Lisboa
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