Escreva-se já que não se deve abusar da paciência da D. Alice. Há 14 anos que é a guardiã da cadeira de São Gens – e a chave só sai do seu bolso se não estiver a rezar o terço. Mas escreva-se também que ela nunca recusou abrir a porta que esconde aquilo que todos queremos ver mal entramos na Ermida da Senhora do Monte, lá em cima, na Graça.
A porta fica num canto, logo à direita da entrada, e percebe-se que não dá acesso a lado nenhum. Vem do tempo em que as igrejas estavam sempre abertas e era preciso resguardar aquela que deverá ser a cadeira mais antiga da cidade, onde o primeiro bispo de Lisboa, martirizado em 284, se sentaria para pregar. E diz a lenda que a grávida que nela se sentar terá garantida uma hora pequena, um bom parto.
Esculpida em mármore (uma parte cor-de-rosa, tinha de ser) e rodeada de azulejos, a cadeira ganhou fama depois de se saber que a mãe de São Gens terá morrido durante o parto. No tempo do bispo estaria na rua; calhou aos frades Agostinhos Calçados colocá-la na ermida, reedificada logo após o terramoto.
A D. Alice é senhora para deixar qualquer pessoa experimentar o frio do mármore mas torcerá o nariz se não houver gravidez a justificar. Ela sabe que também não se deve abusar da paciência de um santo.
Gens, o santo, e a sua cadeira
Crónica Por Lisboa
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