O novo Presidente dos Estados Unidos é tratado por Mogul nas comunicações dos Serviços Secretos. Não será propriamente a designação mais original, uma vez que a expressão é sinónimo de magnata, mas serve o propósito de manter os nomes da código da nova família presidencial a começar pela letra “M”: Melania Trump, a mulher de Donald Trump, é conhecida por Musa entre os homens da segurança, que se referem a Maravilha sempre que querem designar Ivanka, a filha do novo chefe de Estado.
Já Hillary Clinton será sempre Evergreen (Perene, Sempre-viva) para os Serviços Secretos, o “cognome” que lhe atribuíram nos anos 90, durante a presidência do marido Bill Clinton, ou Eagle (Águia). Barack Obama é o Renegado e a sua mulher Michelle, Renascença.
Os nomes de código com que os Serviços Secretos identificam altas figuras do Estado nunca foram assim tão secretos e não causam a menor turbulência nas organizações apartidárias e sem fins lucrativos que zelam pela democracia e ética no exercício de cargos públicos nos Estados Unidos. O que está a alimentar a preocupação dessas organizações são os potenciais conflitos de interesses entre a Trump Organization e o cargo que vai ocupar a partir de janeiro, com os benefícios impossíveis de escrutinar que daí podem resultar. Por exemplo, a Constituição americana obriga a que todos os presentes oferecidos por governos estrangeiros tenham de ser validados pelo Congresso, mas se as ofertas forem dirigidas às empresas de Donald Trump deixa de existir essa permissa legal.
Além disso, como notam vários analistas, muitas decisões na Casa Branca podem influenciar os negócios da marca Trump nos quatro cantos do mundo, esmiuçou em setembro a Newsweek: do Canadá à China, da Argentina à Rússia, do Azerbaijão ao Brasil, passando por França, Alemanha, Turquia, Escócia, Bulgária, Ucrânia, Índia, Coreia do Sul ou Panamá.
Deste ponto de vista, a globalização da marca Trump faz da sua presidência um caso sem paralelo na história dos Estados Unidos. E o facto de o magnata de Nova Iorque não querer entregar a gestão do seu património a uma entidade independente enquanto estiver à frente dos destinos do país, como fizeram outros presidentes (Kennedy e Bush filho, por exemplo), não ajuda a criar confiança.
“Não há indicação que ele sinta qualquer urgência ou vontade de resolver estes conflitos de interesses”, assinala ao Politico Meredith McGehee, da Issue One, uma das organizações que manifestaram dúvidas sobre as intenções de Donald Trump. Para o vencedor das eleições da semana passada, passar para o nome dos filhos um império que envolve cerca de 500 entidades resolve o problema. “Assumam a companhia, rapazes, e desfrutem”, disse para os filhos em janeiro, num debate do Partido Republicano.
Trump não enganou o eleitorado. Ao longo da campanha, disse sempre que não iria abrir mão dos seus negócios. Nada na lei o força a tal. Donald Jr., Ivanka e Eric, os três filhos que já gerem os investimentos a seu lado, assumirão agora maior responsabilidade, enquanto o pai promete dedicar-se apenas ao país. Uma solução longe de convencer os céticos. “A ideia de que a família gere o negócio e com isso ele trata dos problemas de conflito de interesse é uma piada”, considera Fred Wertheimer, da organização Democracy 21.