A ideia de que Donald Trump iria moderar o discurso depois de ser eleito Presidente dos Estados Unidos tem-se revelado uma falácia nos últimos dias. O milionário até pode reconsiderar a ideia de nomear um procurador especial para investigar Hillary Clinton pelo caso dos ‘emails’. OU deixar que o casamento homossexual aprovado fique como está. Mas há muito mais das ideias do candidato Trump que tanto assustaram o mundo, que prometem passar a efetivas com o presidente Trump.
Em entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS News, Donald Trump disse estar preparado para expulsar imediatamente dos Estados Unidos dois a três milhões de imigrantes sem documentos. E a promessa de construir um muro na fronteira com o México continua a fazer parte da cartilha do presidente eleito, que até admitiu que pode ser parcialmente uma vedação, como foi sugerido por alguns congressistas republicanos, para logo reiterar: “Em algumas áreas sim, mas noutras é mais apropriado construir um muro”.
Quanto aos milhões de imigrantes ilegais, “vamos apanhar os que tenham registo criminal, os membros de gangues, os traficantes de droga. Provavelmente dois milhões, podem ser até três milhões, destas pessoas vão ser deportadas, ou presas”, afirmou. “Vamos tirá-las do nosso país, estão cá ilegalmente”, prometeu.
E a sua ofensiva para conseguir implementar nos Estados Unidos as suas políticas começa também pela Justiça. Com a necessidade de nomear juízes para o Supremo Tribunal, Trump não se escusou à questão e sublinhou que vai nomear juízes “anti-aborto” e “muito favoráveis à Segunda Emenda” da Constituição norte-americana, que garante o direito de cada cidadão dos EUA a ter uma arma de fogo.
Morte aos Tratados
A vitória de Trump é também uma má notícia para os acordos de comércio e do clima. Em Bruxelas, a comissária Cecilia Malmström já disse que o Tratado Transatlântico de COmércio e Investimento (TTIP) vai ficar em ‘stand-by’. Mas se já tinha sido difícil negociá-lo com a Administração Obama, nos corredores europeus poucos acreditam que a eleição de Trump não tenha sido a pena de morte para o TTIP. O mesmo parece acontecer com o Acordo de Paris, que visa impedir o aumento da temperatura mundial e combater as alterações climáticas. Entrou em vigor quatro dias antes das eleições americanas, mas Trump nunca escondeu que pretendia”, no mínimo, “renegociar os compromissos”.
Um dos principais temas em que Trump mostrou algum recuo na entrevista foi relativo ao Obamacare, o plano de reforma do sistema de saúde de Barack Obama. Tinha prometido na campanha que logo no primeiro dia de Casa Branca acabaria com ele, mas agora disse na entrevista que deu também ao Wall Street Journal que o próprio Obama lhe pediu que reconsiderasse a revogação integral do programa, o que fará “por uma questão de respeito”. E há dois pontos que podem afinal manter-se: a possibilidade de os filhos poderem usufruir do seguro de saúde dos pais até aos 26 anos e a proibição das seguradoras recusarem cobertura a pacientes com base em doenças existentes.
Ainda sem estar a ocupar o mais alto cargo dos EUA, Trump já começou os contactos diplomáticos e a sua aproximação aos líderes partidários de partidos nacionalistas é evidente. O primeiro a ser recebido foi Nigel Farage, líder do UKIP britânico, a quem Trump apelida de “senhor Brexit”. Mas na Europa multiplicaram-se os casos de figuras conhecidas da extrema-direita impulsionadas pela vitória de Trump. A francesa Marine Le Pen é um desses casos, o que deixa muitos analistas preocupados pelo facto de as Presidenciais francesas estarem já à porta.
O milionário que será o próximo inquilino da Casa Branca promete ainda não dar grande despesa ao Estado. E apesar de ter direito a um salário anual de 400 mil dólares pelo cargo de presidente dos Estados Unidos, garantiu que não vai recebê-lo.
“Penso que, por lei, só tenho de receber um dólar, por isso receberei um dólar por ano”, afirmou.
Priebus e Bannon na Casa Branca
Entretanto começaram já a ser conhecidas as nomeações para a Casa Branca. O chefe de gabinete será Reince Priebus, atual presidente do Comité Nacional Republicano. E também ele deixou já uma ideia do que será a nova política de Washington: “Estou muito grato ao Presidente eleito por me dar esta oportunidade de o servir, a ele e ao país, e de trabalharmos em conjunto para criar uma economia que funcione para toda a gente , para aumentar a segurança nas nossas fronteiras, para acabar com o Obamacare e destruir o terrorismo radical islâmico”,
Como chefe de estratégia e conselheiro da Casa Branca foi escolhido Stephen Bannon, antigo oficial da marinha, dono da Breitbart News Network.