
Comece-se por escrever que se a ideia é poupar uns cêntimos não vale a pena correr ao Largo de S. Domingos para comprar uns cajus baratos. Quem lá for mais do que uma vez vai sempre apanhar um preço diferente. Julgo que elas nos tiram pela pinta ou pelo andamento das vendas ou ainda seguem a lei da oferta e da procura. Seja qual for a razão e o preço (que ronda os 2 euros o saquinho), importa acrescentar que são dos melhores cajus de Lisboa. Grandes o bastante e sobretudo torrados como deve ser.
Nas bancas improvisadas ao sol (em havendo) também aparecem feijões, quiabos, mandioca e outras coisas que ficam bem numa cachupa ou numa moamba de lamber os dedos. E uma vez mais aconselha-se regatear mesmo sem a certeza de sermos ouvidos por estas mulheres que ajudam a fazer da cidade branca do realizador suíço Alain Tanner uma Lisboa mais negra.
Escreveu o etnólogo francês Jean-Yves Loude, no seu livro Lisboa, Na Cidade Negra, que elas são uma herança óbvia dos escravos dos séculos XVI e XVII. Olhamos as suas roupas cheias de cor e queremos acreditar que nada sobra dessas raízes. O ar displicente e divertidamente superior que lançam na direção da nossa ignorância (não, não sei cozinhar; os cajus são para comer a seco) não deixam margem para dúvida e ainda bem.