Ao cabo de mais um ano a provar vinhos portugueses, instala-se uma sensação de plenitude que nos traz conforto e, também, alguma perplexidade: como podem ser tantos, tão diversos, tão bons e, muitos deles, tão distintos, num país tão pequeno? Sem entrar em explicações, que são para especialistas, registam-se dois factos: a tradição milenar da vitivinicultura no atual território português e o seu património riquíssimo em conhecimentos e em castas, por exemplo; a dinâmica das novas gerações de produtores e enólogos que não param de criar, inovar e apresentar vinhos cada vez melhores. A diversidade é muito grande e a qualidade não tem parado de aumentar, eis o que penso, após as experiências do ano que findou. E a expectativa aumenta em relação a 2023!
Entre os escolhidos para a primeira edição deste ano está uma das maiores revelações do ano passado: Urtiga. É um tinto fenomenal do Douro, um novo topo de gama da Ramos Pinto que é também, desde já, um novo marco na produção de vinhos Douro.
Outro dos eleitos é o Vale dos Ares, de Miguel Queimado, enólogo que recuperou as vinhas e a quinta da família na sub-região de Monção e Melgaço para produzir vinhos premium da casta Alvarinho, só de uvas próprias. Em vésperas de Natal, lançou os Vale dos Ares Alvarinho Limited Edition 2020 – com estágio em madeira, robusto e complexo – e Vale dos Ares em Borras Finas 2020 – amadurecido em cuba, mais mineral e fresco. Ambos com caráter bem identificado com a casta e a região de onde provêm.
O terceiro, na ordem de apresentação, é um espumante da Bairrada do enólogo Osvaldo Amado: Encontro Special Cuvée 2016. É um extra bruto que estagiou com as borras ao longo de 60 meses, até ao degorgement, sem adição de açúcar – e assim adquiriu requisitos de qualidade que o distinguem.
Urtiga DOC Douro 2018 Tinto 2018
Só de uvas da Vinha da Urtiga e das suas 63 castas autóctones com mais de 100 anos, em média. Estagiou 16 meses em tonéis de pequeno volume (90%) e barricas novas (10%), e mais de dois anos em garrafa. Tem cor vermelha-carmim, aroma puro e complexo a frutos de baga, bosque e especiarias, paladar volumoso, mas elegante e aveludado, com taninos firmes e maduros, fruta excelente, frescura imensa, tudo em harmonia. Vinho de eleição. €300
Vale dos Ares em Borras Finas Alvarinho Vinho Verde – Monção e Melgaço Branco 2020
Cem por cento da casta Alvarinho, estagiado durante 18 meses nas borras finas e mais dois meses em garrafa, na qual ganhou estrutura, elegância e complexidade. Apresenta cor citrina suave, aroma fresco e frutado, com os citrinos em evidência, a que se junta um delicado toque floral, paladar rico e vibrante com álcool (13.5%), fruta e acidez bem equilibrados, e final elegante, longo, de puro prazer. €15,90
Encontro Special Cuvée Extra Bruto DOC Bairrada Espumante 2016
Exclusivamente da casta Arinto, com segunda fermentação em garrafa (método clássico), seguida de longo estágio (cinco anos), até ao degorgement. O seu aspeto é cristalino com bolha fina e persistente, a cor citrina brilhante, o aroma complexo com boas notas de frutos secos, tosta e algum fumado, paladar com volume, fruta, frescura, cremosidade e persistência aliciantes. Festivo e amigo da mesa. €30