TRUMP E SUA TRUPE. O mundo vive um momento dramático, extremamente perigoso e ameaçador. Em que estão a ser cada vez mais postergados, pisados, princípios e valores que pensávamos em definitivos em sociedades civilizadas. Princípios e valores consagrados em na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e/ou que decorrem do “Direito natural”, das normais relações entre pessoas e, por maioria de razão, entre países e povos: como o respeito pelos outros, a boa-fé, a tolerância, a cordialidade, ou pelo menos a não agressividade.
Agora, num mundo já cheio de tragédias, da Ucrânia a Gaza, passando pelo Sudão, etc., é também uma tragédia, e a nível global, o que ocorre nos EUA ‒ embora sem dezenas de milhares de mortos, casas e cidades arrasadas. Porém, com imediatas consequências graves já conhecidas, e prováveis gravíssimas consequências futuras. Desde as políticas ‒ para a democracia, a justiça, as instituições internacionais, a paz – até às que têm que ver com a sobrevivência do planeta, como as climáticas.
O que Trump e sua trupe estão a fazer ultrapassa o que se podia imaginar acontecer num país democrático. Ao inqualificável espetáculo de arrogante exibição de poder – entre o trágico, o demencial e o grotesco – da assinatura de cem “ordens executivas” após a sua posse, sucedem-se, a ritmo alucinante, decisões e intervenções violadoras de normas básicas da democracia, da justiça, da solidariedade, do simples bom senso ou da mera boa educação.
Além de Trump e sua trupe violarem compromissos internacionais assumidos pelos EUA, formalmente e/ou na sua prática de sempre: uma “traição” aos seus aliados, que cometeram o erro de demasiado se terem deixado desvalorizar ou menorizar. E não sei se mesmo “humilhar”, embora nunca como Trump fez agora a Zelensky, na mais vergonhosa cena (anti)diplomática alguma vez transmitida em direto pelas televisões. Com o Presidente do mais poderoso país do mundo como que a transformar a vítima do crime no criminoso, e o criminoso em vítima!…
MONTENEGRO, MUDAR E FICAR NA MESMA. Face a este “terramoto” global, o que se passa na política nacional é apenas um sismo de pequena intensidade. Mas, como a “casa” do governo é tão frágil, nos seus alicerces e nos seus materiais, bem poderá desabar. Desabará mesmo se o Governo apresentar a moção de confiança que o primeiro-ministro sugeriu ou anunciou de forma ambígua. E que o PCP parece ter querido evitar ao apresentar uma moção de censura, e ao não a retirar (até quando escrevo: tarde de 2ª feira, 3 de março), apesar de saber que será chumbada.
Assim, e não sendo o PCP ingénuo, só se pode concluir: 1) que prefere que o Governo não caia, porventura por temer eleições antecipadas; 2) em simultâneo imputando a responsabilidade dele não cair ao PS, por não votar a sua moção de censura… Ora, as coisas são diferentes e é bem compreensível que o PS se abstenha na censura e vote contra a confiança.
Quanto ao resto, já muitíssimo foi dito e aqui não cabe dizer mais nada. Sublinho só que, quer pelo tal estado do mundo, com inevitáveis consequências entre nós, quer pelo que a defesa da nossa democracia impõe, deve haver inteligência e moderação no debate político, designadamente no conducente ou não à queda do Governo. Por exemplo, não deixando instalar a perceção (e Luís Montenegro é tão atreito a perceções) de haver neste caso qualquer forma de corrupção ou similar: não há, nem de perto nem de longe, a questão é apenas política e, de certa forma, ética.
Acontece é que não se percebe de todo como Montenegro, para dar como solucionados os problemas decorrentes da sua propriedade de uma empresa, passa as quotas à mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos (e que fosse mesmo com separação de bens…). E, agora, ambos as passam para os dois filhos, de 19 e 23 anos, um estudante outro recém-licenciado em Gestão. Desta modo, embora do ponto de vista formal seja diferente, na essência não muda praticamente nada. Se a empresa já viesse muito de trás, se os filhos fossem profissionais (re)conhecidos, tivessem uma carreira no ramo ou na gestão em geral, etc., seria outra coisa. Assim, não é.
À MARGEM
Imobiliárias e imobiliárias
À semelhança do que acontece(u) com a empresa e a(s) casa(s) de Montenegro, há coisas mal explicadas com a questão das imobiliárias. Porque, para efeitos políticos e éticos relevantes, nem todas as (juridicamente) empresas desse ramo são iguais ou sequer semelhantes.
Há que atender, para tais efeitos, a quando foram constituídas, com que objetivos, negócios, realizados ou possíveis, que podem ou não ser favorecidos pela ação política dos proprietários, etc. Uma coisa é quem vai para o governo, e/ou tem poder autárquico, e constitui uma imobiliária aproveitando-se ou pretendendo aproveitar dessa situação, outra muito diversa é ter uma empresa só para gerir património familiar há muito existente, e até porventura indiviso.
Por isso, fez muito bem a ministra da Justiça, de uma família com um vasto património já antigo, em deixar clara a sua posição a esse respeito.