Que nos perdoe quem não se maravilha com a chegada da primavera. Por aqui deliciamo-nos com coisas simples como fechar os olhos por causa do sol, ou tirar os sapatos para pisar um caminho de musgo. E, já agora, fazer isso ao som dos gritos estridentes dos periquitos-de-colar que voam rápidos entre as árvores.
Eles terão um especial gosto pelas de ramos finos. Pelo menos não os vemos pousar nos ciprestes nem nas olaias já em flor, nem mesmo nos dragoeiros, por estes dias ainda sem as suas bagas carnudas, que também dão um ar tropical ao Cemitério dos Ingleses.
Talvez seja porque a primavera está ao virar da esquina. A verdade é que nesta última visita ao jardim que rodeia a igreja anglicana de São Jorge acabámos a achá-lo mais exótico do que romântico – o que não está mal porque é um cemitério diferente.
Não há um jazigo sequer para o romancista Henri Fielding e as sepulturas nem sempre têm campas. Em vez de lajes, vemos buxo aparado, hera e vasos. “No artificial flowers in the cemetery” lê-se ao entrar no portão do nº 6 da Rua de São Jorge, na Estrela.
Quisemos voltar a transpo-lo quando soubemos que a Embaixada Britânica vai vender o quarteirão onde houve um hospital, um court de ténis e uma escola. E aconselhamos a visita antes que comece o barulho das obras (seg-sex 10h30-13h, dom 11h30 missa).
Entre dragoeiros e periquitos-de-colar
Crónica Por Lisboa