“Mais elle était du monde où les plus belles choses/ Ont le pire destin,/ Et rose elle a vécu ce que vivent les roses/L’espace d’un matin.”
Era sempre a minha avó Germana que me levava ao cemitério. “Vamos tratar das flores do avô”, dizia, e eu ia sem desconfiar que ela precisava de companhia. Já conhecia o atalho entre os jazigos para chegar à torneira onde enchia o regador e divertia-me com os nomes que lia pelo caminho.
Nunca saíamos dos Prazeres sem dar uma volta pelos jazigos de duas ou três famílias que ela conhecia, e foi numa dessas voltas que me mostrou o epitáfio das rosas. Hoje procuro os versos de Malherbe todas as vezes que ali regresso. Estão à direita de quem entra e mais não digo porque é bom perdermo-nos neste cemitério.
Claro que há visitas guiadas e até códigos QR junto de alguns túmulos, mas o melhor é ziguezaguear à cata de epitáfios que vão além de “que a terra lhe seja leve”. É aí que reparamos no rapaz que “era as delícias duma tia e inseparável dum amigo fiel” ou num Miguel Ignácio que saiu de casa dos avós “na tenra idade de onze anos” e andou pelo Brasil “sem nunca ter assinado papel algum para perseguir o seu semelhante”.
No dia 30 faz 20 anos que morreu o meu pai, Fernando Assis Pacheco. Contei 40 passos do nosso jazigo até ao túmulo dos escritores onde repousa o seu amigo Cardoso Pires e fiquei a imaginá-los a inventarem histórias a partir dos epitáfios dos outros.
Passear pelos epitáfios dos Prazeres
Crónica Por Lisboa