Um novo estudo, realizado por investigadores da Universidade de Cardiff, no País de Gales, descobriu que pode existir uma forma de perceber as causas iniciais da doença de Parkinson, ao “ouvir as conversas” das células cerebrais à medida que elas se desenvolvem.
A doença de Parkinson é, juntamente com a Alzheimer, uma das principais doenças que afetam o cérebro. No entanto, ainda é largamente desconhecido o que provoca esta doença insidiosa, em que partes do cérebro são progressivamente danificadas ao longo do tempo, o que faz com que os doentes percam, gradualmente, a capacidade de se moverem.
Nesta doença, grande parte dos danos acontece antes que os sintomas apareçam, o que dificulta ainda mais a definição concreta do que leva as pessoas a terem Parkinson. Com tecnologia avançada, a equipa do novo estudo conseguiu fazer as células “regressarem atrás no tempo”: recolhendo amostras de células da pele de pessoas com Parkinson e de indivíduos sem a doença, os investigadores “reverteram a idade” dessas células, tornando-as novamente “células-tronco”.
A partir de diferentes métodos e equipamentos avançados, a equipa estimulou essas células a desenvolverem-se até se transformarem neurónios e, agora, tem explorado de que forma ocorre a comunicação elétrica entre eles.
“A ideia é que estamos a tentar ouvir a conversa cruzada ou a comunicação entre os neurónios no cérebro… um bocado como um agente secreto a ouvir uma conversa entre duas pessoas”, explica, citada pela BBC, Dayne Beccano-Kelly, investigadora principal do estudo.
A cientista diz ainda que os sintomas de Parkinson aparecem “em estágios posteriores da vida, em média por volta dos 65 anos”, mas que os danos cerebrais não acontecem “da noite para o dia” e que, “portanto, há uma janela de tempo antes de as células começarem a morrer na qual” os investigadores podem ser úteis.
Ao observarem as diferenças que ocorrem ao longo do tempo nas células com Parkinson em relação às células sem a doença, a equipa espera, agora, descobrir a variedade de fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença, incluindo a incapacidade de certas células cerebrais limparem resíduos de proteínas dentro delas, o que pode resultar na sua morte.
Os investigadores afirmam, agora, que esperam que as suas descobertas possam ser uma porta de entrada para a procura de novas formas de identificar a doença degenerativa, por um lado, e novos tratamentos para a tratar..
Neste sentido, têm sido realizados vários estudos. No mês passado, por exemplo, um estudo publicado na Lancet Neurology, e liderado pelo neurologista americano Andrew Siderowf, concluiu que a elevada presença a proteína alfa-sinucleína no líquido cefalorraquidiano, que banha o cérebro, é de “uma grande precisão (para identificar) as formas típicas da doença de Parkinson”.
O estudo, o primeiro do género realizado em centenas de doentes, confirma que, testando a presença elevada desta proteína, a doença pode ser amplamente identificada.
Também em março, um estudo publicado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), demonstrou o desenvolvimento de um dispositivo que permite detetar concentrações mínimas de dopamina em amostras de baixo volume, ajudando a combater doenças neurológicas como o Parkinson, por exemplo.