A segunda presidência de Donald Trump não será igual à primeira. Desta vez, por aquilo a que se vai assistindo, ele começa a rodear-se de colaboradores mais fiéis, completamente alinhados com a “revolução” que pretende implantar na política norte-americana e na construção de uma nova ordem mundial. Ao contrário do que sucedeu no primeiro mandato, ele já não se está a rodear de personalidades que, nos momentos mais importantes, tinham a preocupação de reprimir os seus piores impulsos ou tentar chamá-lo “à razão”. Agora, um a um, cada membro dirigente da nova Administração tem sido escolhido pela lealdade que já manifestou com o Presidente eleito. Da mesma forma como, contrariando tantos prognósticos, conseguiu alcançar um domínio absoluto sobre o Partido Republicano, domesticando-o e transformando-o, de alto a baixo, de acordo com a sua agenda, Trump prepara-se para fazer agora o mesmo, em toda a linha e em todos os setores, através do seu posto de comando na Sala Oval.
No seu regresso à Casa Branca, Trump vem animado também com um declarado impulso de vingança. E um impulso que os que agora o rodeiam souberam, durante uma campanha vitoriosa, transformar num verdadeiro plano de ação. Não interessa se muitas das suas mais sonoras promessas, proferidas durante a luta pelos votos, podem ou não ser realizadas tão rapidamente quanto ele afirmou no calor dos comícios para empolgar audiências. A verdade é que, desta vez, ele está a conseguir rodear-se de um exército de vingadores, tão interessado como ele em destruir muitos dos fundamentos em que funciona a democracia norte-americana e em libertar a economia das amarras reguladoras antimonopolistas.
E, desta vez, não está sozinho. E a sua vingança vai ser servida a quente, com um plano, e com o apoio de aliados, dentro e fora da Casa Branca, que há oito anos lhe faltavam.
No seu primeiro mandato, Trump decidiu retirar os EUA do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas e fê-lo de forma isolada. Agora, se voltar a fazer o mesmo, ninguém se admire que outros líderes e países o acompanhem. Ao contrário do que acontecia há oito anos, em que era visto como uma espécie de extraterrestre com uma estada passageira na Casa Branca, ele agora surge como o líder natural de um movimento mais vasto que une populistas e políticos radicais em fúria com as instituições democráticas e que, a todo o momento, mostram a sua oposição às políticas verdes que obriguem à redução da emissão de gases com efeito de estufa e que acelerem a transição energética, para tentar travar o aquecimento global.
A vitória de Donald Trump já está a criar diversas ondas de choque na política internacional, mesmo que ainda faltem mais de 60 dias para a sua tomada de posse. Com Trump de regresso, os líderes extremistas perderam a vergonha e já não têm receio de dizer o que pensam. Orbán foi rápido a declarar morto o consenso europeu em relação ao apoio à Ucrânia e Netanyahu já assume que pretende anexar toda a Cisjordânia, além de reconhecer que autorizou pessoalmente os ataques com pagers e walkie-talkies armadilhados, no Líbano, em setembro, e que podem ser qualificados como terroristas.
Neste clima, o que se pedia à União Europeia era que soubesse desempenhar o seu papel como o espaço que melhor defende os valores e princípios democráticos – e que, durante décadas, a fez ser admirada por grande parte do resto do mundo, como um farol de desenvolvimento económico e social, em paz e na vanguarda do respeito pelos direitos humanos. Também cabia à União Europeia, perante aquilo que se espera que venha a ser a presidência de Trump, que voltasse a assumir a liderança na frente climática. Afinal, o que se vê é exatamente o contrário, como se os 27 tivessem de estar resignados a um papel menor na próxima ordem mundial.
A forma como os principais dirigentes europeus decidiram faltar à Cimeira do Clima, em Baku, é elucidativa das prioridades de cada um – mais interessados em resolver os problemas internos de governabilidade que afetam quase todos os países. Essa ausência do grande fórum mundial sobre o desafio climático demonstra que a União Europeia renunciou ao papel de grande influenciador da questão ambiental. Não se queixe, depois, se outros ocuparem esse lugar.
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