Seguindo um guião importado, os imigrantes passaram a ser o bode expiatório para todos os males em Portugal.
Verifico isto de forma mais ou menos subtil, dependendo do ponto, na nova Lei dos Estrangeiros, mas também através da simbologia das alterações pretendidas na Lei da Nacionalidade que, na realidade, não respondem (nem precisavam) patavina ao que são os pedidos a partir do País.
Na primeira, transcende-se de forma completa a necessidade imperiosa de controlar, agilizar melhor os processos dos imigrantes que cá chegam e o próprio combate à imigração ilegal.
Num Governo que acaba por ceder nesta área em quase tudo à extrema-direita, prevendo que continuará a retirar daí dividendos políticos, será o País contribuinte a pagar a fatura deste fechamento ao exterior e de quem mais nos procurava.
Mesmo que todos os indicadores demonstrem que os imigrantes contribuem positivamente para a economia e pagam mais impostos do que os benefícios que recebem, a perceção transforma casos isolados em revolta social, servindo de feição a agenda de desinformação da extrema-direita. O racional desaparece e até o facto de estarmos abaixo da média com o número de imigrantes residentes no País em proporção.
A AD e todas as restantes direitas cederam e Portugal já começou a perder muita da reputação que construiu internacionalmente como país aberto, humanista, gerador de empregos, e que perdurou ao longo das últimas décadas. Nunca é demais reforçar que a imigração legal tem sido verdadeiramente crucial, com um saldo fiscal anual positivo superior a 600 milhões de euros. E que somos um país demasiado envelhecido e com uma taxa de natalidade baixíssima.
Em relação à economia, a demora na classificação agora restrita às “profissões altamente qualificadas” no visto para procura de trabalho dos imigrantes é sinónimo de desorientação. Ora, ou existe aqui uma diferença gigante em relação ao que o governo define por essas mesmas profissões em comparação com os organismos europeus, ou passa-se ao lado da oferta de que o País continua a precisar.
Estas mudanças, o sinal de endurecimento sem aliarmos políticas com base nos factos e integração da imigração, vão fazer-se sentir sobretudo junto dos países de língua portuguesa. Com consequências a vários níveis. Não é só o efeito nos milhões de portugueses na diáspora em jeito de reciprocidade. Será também todo um contexto de importação e exportação para mercados onde as nossas empresas tinham prioridade e onde deixarão de a ter.
Junte-se a isto a revisão em baixa das míseras taxas de crescimento da nossa economia pelo próprio Governo e as diversas entidades como o Conselho de Finanças Públicas, a UTAO e a OCDE a divergirem nalgumas das metas apontadas no Orçamento do Estado para o próximo ano.
Em suma, todo um País em processo acelerado de descaracterização e de empobrecimento, pela força da agenda racista do líder extremista no novo orgulhosamente sós, dos “três Salazares” versão século XXI e dos fantasmas antiglobalização de Pedro Passos Coelho.
Um programa da nova extrema-direita e da direita nacionalista em que o verdadeiro socialismo de miséria em modo anos 60-70 se tornou bandeira. Conscientemente ou não.
Hoje por hoje, e a julgar na influência direta e indireta da agenda destes senhores junto do Executivo nacional, será que mais valia sermos espanhóis?
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