“Nós temos uma visão mais positiva porque vimos o mercado há uns anos e a sua evolução”, justifica Pedro Lancastre, diretor geral da JLL Portugal. “Falamos com investidores e fechamos negócios, e isso serve-nos como barómetro. O ano de 2020 foi o terceiro melhor ano de sempre do mercado, como também da JLL, e o pipeline que temos em mão, e a quantidade de negócios que estamos a fechar em plena pandemia, mostra bem a força que este mercado tem e quanto está no radar”, continua o responsável.
Num encontro com jornalistas na manhã desta terça-feira, 26 de janeiro, o responsável da imobiliária respondia desta forma à pergunta da EXAME sobre o otimismo das perspetivas apresentadas pela equipa de consultores. A pandemia terá travado parte dos negócios durante o Grande Confinamento, mas segundo os especialistas a retoma foi praticamente imediata, sobretudo por parte dos investidores internacionais, assim “que os aviões voltaram a voar”.
Segundo o estudo Market 360º, realizado pela mesma organização, a habitação multi-family vai estar em destaque na procura durante os próximos tempos, em que Portugal deverá roubar o lugar preferencial a outros mercados. No mesmo sentido, aponta o documento, a redinamização do imobiliário de industrial & logística, que estava relativamente parado no País, deverá continuar a mostrar uma evolução positiva durante os próximos meses, consideram. E enquanto os escritórios e o retalho se reinventam para acomodar aquilo que serão as novas necessidades das empresas – o teletrabalho veio para ficar, pelo menos a tempo parcial, o que significa que as empresas vão ser procuradas por terem espaços mais espaços de convívio e de trabalho comum e também serão apreciados espaços com serviços como ginásios, refeitórios ou até lavandarias – se forem sendo acompanhadas as tendências do que está a ser feito em países como França, por exemplo.
No mercado residencial, que é o que geralmente reúne mais curiosidade por parte dos consumidores, deverá, no entanto, haver poucas alterações. Patrícia Barão, Head of Residential, confirma que a procura e a oferta estão a ser ajustadas “às necessidades pós-pandemia, com maior integração de espaços exteriores e com espaços para home office, e que há ligeiras correções no mercado – sobretudo fora das zonas premium – mas que os fundamentais se mantêm e, como tal, “os investidores estrangeiros têm o nosso país no radar e vão continuar ativos no mercado”.
E apesar de muitos dos clientes e investidores serem portugueses, a verdade é que se vê muito dinamismo sobretudo nos mercados do Reino Unido, França, Brasil e EUA. Há uma tendência crescente de norte-americanos à procura de imóveis em Portugal, não apenas para residência, mas também como investimento”, avisa a responsável, que salienta ainda que é tempo de parar de afirmar que o mercado imobiliário é uma bolha prestes a rebentar.
“Antes da pandemia falava-se muito do tema da bolha, mas acho que já está ultrapassado esse tema. A banca continua a financiar as famílias”, continua, confirmando que as correções que têm estado a verificar-se no mercado não são significativas, apenas respostas ao movimento natural de oferta e procura. “Muita atenção a esse tema. Não vai acontecer uma redução drástica dos preços da habitação. Prevejo é que haja, em algumas localizações pontuais, uma correção destes preços por causa da quebra da procura. Mas são correções”, repete.
No mesmo sentido, os especialistas desvalorizam o impacto do fim das moratórias nos segmentos médio e alto e alto – aqueles a que se dedicam. E apesar de admitirem dificuldades no tecido económico nos próximos tempos, acreditam na resiliência de um mercado que, segundo os mesmos, tem evoluído de uma forma muito consistente durante os últimos anos, o que dá garantias de aguentar melhor o impacto.
Nota ainda para a evolução do imobiliário turístico que foi, sem surpresas, o mais penalizado com a pandemia, ao registar uma quebra em todos os indicadores. No entanto, a Hotel Advisory da JLL Portugal, Karina Simões, acredita que a perspetiva da vacina e o regresso do lazer, que a especialista crê voltar a níveis pré-pandemia, contribuirão positivamente para a recuperação do segmento. “O segmento de lazer, especialmente os destinos mais sustentáveis e próximos de casa, serão os primeiros a recuperar”, considera, lembrando que no verão foram precisamente regiões como o Alentejo a conseguir aumentar os níveis de ocupação, com os turistas a privilegiar lugares mais em contacto com a natureza e com menos densidade populacional. “Em Portugal, é o momento de capitalizar o turismo doméstico, aproveitando a tendência de crescente interesse por cidades secundárias e destinos localizados em ambientes mais rurais. Outro segmento a recuperar primeiro será o dos resorts, muito associados ao segmento alto, o qual deverá um dos primeiros a retomar as viagens”, concluiu.
Pedro Lancastre sublinha ainda que “estão a emergir novos focos de investimento, entre os quais a habitação para arrendamento de longa-duração e o as residências com serviços, com a grande vantagem de proporcionarem oportunidades de mercados em fase de arranque, as quais já não existem noutros países com mercados mais maduros e bastante mais concorrenciais”. Para o especialista, o facto de Portugal continuar a ser apontado como um País seguro, com bom tempo e barato, vai facilitar a recuperação. E desvaloriza o atual estado de pandemia, que coloca Portugal como a pior região do mundo em termos de taxa de infeção, garantindo que, se tudo correr conforme o previsto, com este novo confinamento e o plano de vacinação, “daqui a um mês ninguém se lembrará disso e as pessoas vão voltar com a mesma confiança”.