O transporte marítimo é o principal meio de transporte no comércio internacional de mercadorias, o que também acontece em Portugal, quando analisamos a distribuição de mercadorias por modos de transporte. Quer em termos de exportação, quer em termos de importação, mais de 50% do volume transportado é por via marítima.
Vivemos hoje, novamente, um cenário de greve dos estivadores, desta vez uma greve ao trabalho suplementar. Convocada para os vários portos portugueses, esta greve, com anunciado prolongamento até 1 de janeiro de 2019, faz-se sentir com forte impacto no porto de Lisboa. É sabido que, segundo estudos públicos, nos últimos dez anos, o porto de Lisboa viu 35% dos seus dias a serem assombrados por paralisações.
Perante os nossos exportadores e importadores, uma greve nos portos em Portugal em nada beneficia a economia portuguesa a crescer e a manter a indústria portuguesa competitiva e atrativa no mercado global.
O regresso a greves e protestos tem efeitos negativos no tecido industrial nacional e para quem quer investir no nosso país, afetando a sustentabilidade e a imagem do sistema portuário português, causando a quebra de confiança dos clientes e parceiros.
A greve prejudica fortemente o porto de Lisboa, e uma vez mais as empresas importadoras e exportadoras nacionais, que trabalham diretamente com o porto, a quem, além das alterações que foram forçados a efetuar nas suas cadeias logísticas, começaram a ser cobradas, pelos respetivos armadores, taxas de congestionamento (veja-se uma sobretaxa de congestionamento de 150.00€/TEU *).
Além do aumento de custos significativos para as empresas portuguesas, existe o perigo eminente da possível perda da credibilidade por parte dos armadores que receiam trazer os navios a Portugal.
Um navio que deveria descarregar e carregar contentores numa questão de horas, está hoje a demorar quatro dias – e cada dia custa milhares de euros. Quando um armador tem de suportar um acréscimo extraordinário de custos e compromete a viagem, toma decisões que passam muitas vezes por não fazer escala em Lisboa, tal é o caso da Maersk, maior armador mundial, que abandonou a atividade no porto de Lisboa e a Hapag-Lloyd que trocou o porto de Lisboa pelo de Leixões.
Estas reações na cadeia logística produzem efeitos na sua perda de eficiência. Os portos em operação estão sobrelotados, o comboio sem capacidade de resposta para o aumento da procura, a Alfândega aumenta tempos de resposta para validação dos despachos e, por outro lado, os exportadores passam a compactar em 2-3 dias toda a logística de carregamento e entrega dos contentores, originando custos adicionais de horas extras e a alterações de planeamento de produção para conseguirem fazer face aos seus compromissos.
Mas também outros agentes económicos estão a tomar decisões que prejudicam os portos portugueses. Notícias revelam que a Autoeuropa, habitual utilizadora do porto de Setúbal, pondera passar a utilizar outros portos, nomeadamente Espanha, para a exportação de parte das suas cargas.
A história tem revelado que estas decisões são dificilmente reversíveis, sendo de elevada probabilidade que as cargas agora transferidas não retornem rapidamente aos portos anteriores.
Se as empresas encontram alternativas para o transporte das suas cargas, o agravamento dos seus custos é uma consequência direta destas decisões. Cada dia que passa de greve obriga as empresas a reequacionar as suas operações logísticas.
Os danos para a economia nacional são de forte perda de competitividade. A logística é, hoje, um forte elemento de competitividade das empresas e das economias. Influencia, decisivamente, a localização de novos investimentos, a exportação de produtos para novos destinos e a criação de emprego. Portugal compete com outras economias e as empresas nacionais necessitam de uma logística com baixos custos e elevada fiabilidade nos tempos de transporte.
Esta greve tem como consequência direta um aumento dos custos de transportes; a dificuldade de transportes dada a compactação das operações, custos acrescidos de paralisações, inventário, armazenagens. É um fator de perda de competitividade da nossa economia.
Para os operadores logísticos e transitários, é crucial que a situação seja resolvida rapidamente pelas entidades competentes, não podendo continuar indefinidamente sem resolução. É importante que a situação volte à normalidade para podermos garantir ao mercado a previsibilidade e a agilidade no processo logístico que, ao longo dos últimos anos, tem trabalhado afincadamente.
*TEU – Uma Unidade equivalente a 20 Pés (em inglês: Twenty-foot Equivalent Unit ou TEU), é uma medida-padrão utilizada para calcular o volume de um contentor. Um TEU representa a capacidade de carga de um container marítimo normal.