É o primeiro caso detetado em humanos nos Estados Unidos. Uma mulher de 49 anos, com uma infeção urinária, acusou a presença de uma bactéria com o gene que está a deixar as autoridades de saúde em sobressalto, devido à sua resistência ao antibiótico de último recurso, a Colistina (ou Poliximina).
“Basicamente mostra-nos que o fim da linha para os antibióticos não está muito longe”, afirma ao Washington Post Tom Frieden, diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, que diz temer uma era em que não será possível tratar certas infeções.
Este gene, designado mcr-1 e descoberto pela primeira vez em humanos na China, em Novembro do ano passado, já foi entretanto identificado em pessoas de outros 11 países, incluindo Inglaterra, França, Alemanha e agora Estados Unidos. Em Portugal foi detetado em 2011 em carne comercializada, num estudo inserido numa tese de doutoramento realizada na Universidade de Coimbra.
Há fortes suspeitas de que a fonte do problema se encontre nas atividades pecuárias chinesas. Como ali os animais recebem doses de Colistina com bastante frequência – não só para os tratar, mas também para promover o seu crescimento -, os cientistas desconfiam que as bactérias desenvolveram uma capacidade para sobreviverem ao antibiótico – uma das principais razões para estes medicamentos deixarem de ser eficazes é precisamente o seu uso excessivo. Acredita-se também que o gene mcr-1 passou dos animais para as pessoas através de comida contaminada.
“É difícil imaginar pior notícia para a saúde pública dos Estados Unidos. Podemos enfrentar em breve um mundo em que essas infeções não são tratáveis”, diz ao Washington Post Lance Prince, diretor do Centro de Ação à Resistência Antibiótica, deixando o aviso para a necessidade urgente de atacar o problema: “Se os nossos líderes estavam à espera de avistar o abismo para atuarem, espero que isto lhes abra os olhos”.
A cidadã norte-americana cujas análises acusaram a presença do gene mcr-1 não corre risco de vida. No seu caso, a bactéria que transportava o referido gene pode ser combatida com outros antibióticos que não a Colistina. Mas o problema ganhará uma dimensão alarmante quando o gene se disseminar por bactérias mais perigosas, capazes de sobreviver a esses outros antibióticos. Aí nem a Colistina, última linha de combate a várias bactérias multirresistentes, as poderá salvar.
“Se o mcr-1 se tornar global – e é um caso de quando e não de se – e se juntar a outros genes resistentes a antibióticos, o que é inevitável, então provavelmente teremos atingido o início da era pós-antibióticos”, antecipou Timothy Walsh, da Universidade de Cardiff, à BBC, quando em Novembro foram divulgados os resultados dos testes efetuadas na China, dos quais participou.
A Organização Mundial de Saúde já alertou para o mesmo perigo, que pode levar a que infeções agora facilmente tratáveis se tornem casos de complexa ou impossível resposta clínica.