O poder das redes sociais tem destas coisas. Uma fotografia publicada este sábado no Facebook pelo médico urologista Junaid Masood, um inglês com raízes paquistanesas, somou quase 20 mil partilhas em quatro dias e virou notícia no Reino Unido.
A imagem captada no Homerton University Hospital de Londres, na qual aparecem ao lado de Masood um anestesista alemão, uma radiologista irlandesa, um urologista grego e três enfermeiros espanhóis, é o mais recente ícone anti-Brexit.
“Somos Europa! Hoje trabalhámos muito a melhorar a vida das pessoas! Isto é que os nossos amigos da Europa fazem pelo Serviço Nacional de Saúde”, escreveu Junaid Masood a acompanhar a fotografia. E depois acrescentou na caixa de comentários que a “imigração é a espinha dorsal” dos cuidados médicos no Reino Unido.
A necessidade de parar o fluxo migratório, e salvaguardar os empregos dos britânicos, foi uma das bandeiras da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia e é por muitos apontada como a principal justificação para o resultado do referendo de quinta-feira passada. Mas, se há setor onde os imigrantes são uma força de trabalho importante, é precisamente o da saúde. Daí também a projeção que esta fotografia está a ganhar.
Mais de três mil enfermeiros portugueses no Reino Unido
Em 2013, segundo dados do sindicato dos enfermeiros Royal College of Nursing, faltavam 20 mil enfermeiros no Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido. Por essaaltura já o recrutamento no estrangeiro passava muito pelos p aíses do sul da Europa, como Portugal e Espanha, depois de o primeiro-ministro David Cameron, em 2010, ter dificultado a contratação destes profissionais da saúde em países fora da União Europeia (UE), como era habitual (Índia, Paquistão, Austrália, África do Sul).
Para suprimir o défice de enfermeiros no país, o Governo britânico começou a pagar a empresas de recrutamento para encontrarem mão de obra qualificada dentro da EU, e assim se explica que o número de enfermeiros portugueses no Reino Unido tenha disparado nos últimos anos.
Dados do Nursing and Midwifery Council – o equivalente em Portugal à Ordem dos Enfermeiros -, citados pelo The Guardian, indicam que entre dezembro de 2006 e novembro de 2007 chegaram ao Reino Unido apenas 32 enfermeiros provenientes de Portugal, número que entre dezembro de 2010 e 30 de novembro de 2011 subiu para 536. Já em 2013, mais do que duplicaram as inscrições de portugueses no Nursing and Midwifery Council, chegando às 1211, de acordo com o relatório de 2015 do Observatório da Emigração.
Com a promessa de salários acima dos três mil euros – e regalias como um mês de acomodação grátis para se adaptarem à nova realidade -, um total de 3155 enfermeiros portugueses trabalhava no Reino Unido em 2014, indicam os dados mais recentes. Ainda que na icónica fotografia de Junaid Masood não apareça nenhum, eles são uma forte presença na comunidade multinacional que compõe o Sistema Nacional de Saúde britânico, agora transformada num símbolo anti-Brexit.