Não se deve correr nos museus, já se sabe, mas no de Macau apetece subir depressa ao 1.º andar porque é lá que nos esperam pormenores deliciosos vitrina sim, vitrina sim. Atravessando milénios sem quase darmos por isso, sorrimos ao ver uma cabeça de cavalo em terracota a rir com todos os dentes, umas cabeças de bambi e de búfalo que espreitam nas cerâmicas da família rosa e um buda em biscuit de cão a tiracolo.
Mas é frente à arca da noiva que estacamos interditos e a culpa vai toda para duas figuras com 6 ou 7 cm de altura, uma delas meio-escondida por um pedaço de véu branco. Não fossem as meninas perderem o paraíso na Terra, era através da porcelana que as mães chinesas mostravam às filhas o caminho para o prazer – e isto ainda acontecia no início do século XX.
Lembro-me de uma ida a Madrid para ver o Guernica acabado de chegar ao Museu do Prado em que demorei a recuperar o fôlego depois de passar pelo tríptico O Jardim das Delícias Terrenas, de Bosch. Coisas de adolescente, claro, porque agora também me divirto junto a uma luta de grilos exposta a seguir à arca, dois homens de olho nos bichos que escorregam num pequeno pote.
Só depois se desça ao rés do chão deste número 30 da R. da Junqueira, onde está a réplica de uma “nau do trato” (kurofune, em japonês) que fazia a ligação comercial entre a Índia e o Japão, com uma paragem em Macau para levar seda. Traz de brinde umas figurinhas em holograma boas para criança ver.
A arca da noiva trazida de Macau
Crónica Por Lisboa