Comecemos por rejeitar o álcool. Mesmo sabendo que a oferta iria cair sobre vinhos naturais, ainda é cedo para castigar o corpo e por isso optamos pelas opções fora da cápsula de bebidas para uma refeição sóbria.
Primeiro, matamos a sede com um chá frio de framboesa e hibisco, que também leva água tónica, para estabelecer aquela ligação a cocktails mais conhecidos e preterimos o tepache, feito com uma base de cascas de ananás, como se fosse ginger beer. Este The Capsule tende a ser desperdício zero e o esforço nota-se logo no bar. Ainda haveríamos de provar o sumo de jasmim, ameixa e alecrim, assim como a “limonada” extraída do inhame.
Deixemos os copos e partamos para a ementa, que por enquanto ainda só pode ser consultada em modo digital. Facto que poderia enervar-nos, não fora a originalidade do que encontramos nesta leitura no telemóvel. Aqui dá para comer desde as 10 da manhã – a oferta condiz com este horário sem espartilhos. Da secção que se estende até às duas, provámos os crepes de trigo sarraceno (€10), doces q.b., a atirar para a versão Suzette, perfeitos para fazer subir o açúcar no sangue sem grandes picos e a piscar o olho a um dos ingredientes da cozinha ucraniana. Esta espécie de sobremesa já levanta o véu sobre o que o chefe Alex Horbenko, ucraniano a residir em Portugal há três anos, anda a fazer, mesmo em frente aos nossos olhos, na cozinha aberta para a sala.
Do resto do menu, experimentámos o especial da semana (há sempre uma sugestão que vai mudando), que consistia em feijão-verde, uvas, ketchup de kimchi, endro em pickle, óleo de ervas e queijo creme. Chegados até aqui, deu para perceber como as conservas, em frascos de vidro, são uma das linhas de atuação de Horbenko, 33 anos, para se aproximar do tal desperdício zero, e surpreender em cada prato.
O The Capsule já existia na Ericeira, mas agora deixaram lá apenas um café de especialidade (também servido aqui, claro). De resto, veio tudo, chefe e receitas com raízes na Ucrânia trabalhadas com produtos portugueses. O tártaro de carne maturada (€14) era um dos best-sellers por lá e ameaça continuar a sua fama pela Baixa lisboeta. Vem em cima de um brioche caseiro, em que também entram as cascas de ananás, com maionese de kimchi e ainda leva raspas de atum por cima.
Tudo isto é saboreado debaixo de uma “árvore” de burel, que está pendurada numa das abóbadas da sala branca, decorada em estilo minimalista, ao jeito nórdico.
The Capsule > R. do Crucifixo, 71, Lisboa > info@thecapsule.space > qua-dom 10h-17h