A regra nas eleições autárquicas é brutalmente simples: quem tem mais um voto, governa. Neste contexto, um voto no PCP e em João Ferreira é um voto a menos na coligação Viver Lisboa que pode derrotar Carlos Moedas. A consequência direta é a manutenção de uma Lisboa parada, à deriva e sem futuro.
O mandato de Carlos Moedas foi a prova de que a gestão autárquica exige mais do que ganhar eleições. A incompetência para liderar uma Câmara Municipal como a de Lisboa vê-se no essencial: ruas sujas e com lixo, espaço público descuidado, mal mantido e sem iluminação, estradas esburacadas e jardins sem manutenção. Mas a incompetência não hipoteca apenas a qualidade de vida no presente, a incompetência adia o futuro por falta de visão, estratégia ou ideias.
A poucos dias das eleições, Carlos Moedas continua sem apresentar um programa eleitoral claro. Esgotaram-se as fitas para cortar e, com elas, as ideias. Carlos Moedas é, possivelmente, o pior presidente da história recente da cidade.
É perante esta urgência que a decisão do PCP se torna incompreensível. Ao recusar integrar a coligação “Viver Lisboa”, o partido alega que o PS viabilizou orçamentos de Moedas. É um argumento frágil para quem tem um longo historial de alianças pragmáticas e outras incompreensíveis com o PSD. A verdadeira razão parece ser outra: o trauma da geringonça.
Essa solução parlamentar, que recuperou direitos e rendimentos no País, não trouxe os resultados eleitorais que o PCP esperava. Agora, o receio de um novo desgaste parece sobrepor-se à necessidade de salvar Lisboa. O partido prefere o isolamento, mesmo que o custo seja mais um mandato de estagnação liderado pela direita.
Ninguém questiona o mérito, a competência ou a integridade de João Ferreira. Será um excelente vereador numa câmara municipal liderada pelo centro-esquerda e um vereador inconsequente numa câmara liderada pela direita. O que está em causa não é o candidato, mas a cidade. A escolha no dia da eleição será entre um projeto que pode devolver um futuro a Lisboa e a continuidade do vazio.
Os eleitores progressistas terão de decidir se o seu voto serve para construir uma alternativa viável ou se, ironicamente, contribuirá para manter no poder aquele que mais desejam ver partir. Carlos Moedas agradece a dispersão de votos. Lisboa, nem por isso.
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