À sua sétima obra sobre África, o jornalista e escritor António Mateus, 65 anos, conta, em Angola – Vidas Quebradas, que agora chega às livrarias, a épica e desconhecida história da megacaravana automóvel que, em agosto de 1975, encetou um perigosíssimo trajeto para as chamadas Terras do Fim do Mundo, para fugir ao horror que tomara Nova Lisboa (atual Huambo). A “esmagadora maioria” dos integrantes, diz, tinha a esperança de que a independência reporia a ordem, e de que poderia regressar a casa. Meio século depois, o essencial do problema subsiste, acusa o autor nesta entrevista à VISÃO: MPLA, UNITA e FNLA “negam barbaridades cometidas pelos seus”, mas “nenhum deles foi parte inocente” em “inadmissíveis violações de direitos humanos”.
Como e quando soube do caso da “maior caravana de fuga ao caos que precedeu a independência de Angola”, conforme a apresenta no seu livro?
Foi em 1995, quando chefiava a delegação da Lusa em Joanesburgo. António Figueiredo, que era à época o presidente da Casa de Angola na África do Sul, deu-me conta dessa história, absolutamente de filme, da maior caravana automóvel que tinha fugido da então Nova Lisboa [atual Huambo] para as que são conhecidas como as Terras do Fim do Mundo. E de que grande parte das pessoas que a integraram eram já nascidas em Angola. Não se viam, portanto, no que era apodado como “retornados”.