Crónica escrita à mesa do restaurante Duplex, numa semana passada em modo Restaurant Week, a iniciativa que se prolonga até 6 de março – e que me fez, por cinco vezes em cinco lugares diferentes, sentar-me, comer e fotografar os pratos do menu com o meu iPhone. Este foi o dia em que provei aquilo que sai das mãos do chefe de cozinha Nuno Bergonse
O melhor: A sopa de castanhas, substancial, servida na mesa
O pior: O menu só ter uma opção para cada momento da refeição
Mal passo as cortinas de veludo pesado da entrada, e enquanto subo as escadas até à sala de jantar, dominada por um enorme espelho, reparo na impressionante instalação que recria, com peças encontradas no lixo, o Cais do Sodré, assinada pelo artista Bordalo II.
Lá em cima, a sala é escura (peço desculpa pelas fotos), está cheia de pessoas com bom ar e animadas, há muito barulho no ar. Este restaurante, com bar no rés-do-chão, abriu há pouco mais de um ano, mesmo na Rua Cor de Rosa, uma das mais movimentadas da noite lisboeta. É por isso um estreante na Restaurant Week e, ao fim de semana, só reservou 20 lugares para estes menus (35 de 50 nos restantes dias). Além disso funciona apenas ao jantar, que é quando a zona se enche de gente.
Tenho fome. Atiro-me com curiosidade a um copinho que ao princípio confundi com uma decoração de centro de mesa – lá dentro estavam uns curiosos grissini extra finos (mesmo extra), acompanhados de queijo creme.
Nunca antes havia provado nada saído das mãos do chefe de cozinha Nuno Bergonse. Assim que olho para o menu, fico desapontada quando percebo que só tenho uma opção para cada momento do jantar e que o prato principal é bacalhau (sim, pertenço àquela mínima fatia da população que não morre de amores por ele). Ainda estava a pensar que poderia sair dali com fome, quando pousa na mesa uma polenta frita em tiras para pincelar em ovo trufado. “É um amuse-bouche”, avisam. E num instante desaparece da travessa. Aparece mais uma tábua com punheta de bacalhau, mas não causa a mesma emoção que os palitos.
Com o estômago mais sossegado, consigo constatar que as mesas de madeira escura não têm toalhas, mas felizmente limpo a boca a guardanapos de pano branco. E espreito a ementa “normal” para perceber se o menu da Restaurant Week vale mesma a pena – neste caso, só a sopa e o prato ultrapassam o valor e chega-se ao final da refeição com uma poupança de 11 euros. Mas nunca esquecer que tudo o resto é à parte (couvert, bebidas e café).
Quando me trazem o prato de sopa vazio, apenas com o foie gras e a goiabada no fundo, aguardo pacientemente, porém aguada, confesso, que vertam o creme de castanhas bem aveludado e eu possa comê-lo e deliciar-me. Se acabasse por não comer o bacalhau, já teria valido mesmo a pena até aqui.
Só que, quando vejo as duas postas no prato, quase aposto que ele é fresco. Dizem-me tratar-se de uma meia cura e arrisco. Sabe-me bem. De qualquer forma, o ovo que o acompanha, cozido a baixa temperatura, e as batatas doces são suficientes para o festim.
Olhando para a sobremesa (anunciada como duplex de chocolate com avelãs caramelizadas), dentro de um frasco de vidro, tenho a certeza de que não vou conseguir acabá-la. É doce. Muito doce. Mas tem umas lindas e irresistíveis petazetas douradas de chocolate logo por cima. Fico a meio – apesar de ainda ter planeado um giro pela noite lisboeta, nunca teria tempo para digerir toda a refeição até à hora de me deitar. E tenho de dormir bem, porque… amanhã há mais.
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