Posso dizer que terminei uma maratona – que esta coisa de passar vários dias a comer bem e substancialmente também dá desgaste físico, com consequências para a minha silhueta, contrárias às que seriam evidentes se tivesse realmente feito a prova de atletismo no sentido literal do termo.
Terminei uma maratona, mas ainda estou sentada à mesa, a ver se não me baralho nem esqueço o desfile de pratos que passaram à minha frente nos últimos dias em que andei a entrar e a sair de restaurantes em Lisboa, em versão Restaurant Week. Este é já um dos principais acontecimentos gastronómicos nacionais, onde participam mais de 100 renomados restaurantes em todo o país. São locais acessíveis a poucas bolsas que se tornam mais simpáticos durante a semana de 25 de fevereiro a 6 de março, ao disponibilizarem menus a 20 euros (sem bebidas), um dos quais reverte a favor das associações Acreditar e da Corações Com Coroa.
Apesar da oferta, nem sempre é fácil arranjar mesa. Até porque em alguns casos nem toda a sala está disponível para estes menus mais baratos. É o caso do AdLib (ao jantar, só 40 dos 70 lugares estão reservados para a Restaurant Week), a primeira paragem para abastecer, com assistência técnica. Amanhã há mais.
1. AdLib, o passeio na Avenida
O melhor: O risotto negro de choco que batizaram de Pérola Negra
O pior: Os empregados de mesa, que não estavam devidamente informados sobre os pratos
Não posso queixar-me: começo por almoçar na Avenida da Liberdade, num dia de sol de inverno, ainda por cima tendo à espera uma sopa de miso, kaiso, shitake e dim sum, que aconchega. O restaurante é espaçoso, não está cheio, e consigo apreciar o menu em sossego. São três opções por cada entrada, prato e sobremesa. Como não vim sozinha, dá para experimentar mais do que uma escolha e ficar satisfeita. Quando o prato Capitum Iglo fica à frente dos meus olhos, sinto-me desolada por ter de estragar a pintura. Mas depois penso que seria o chefe de cozinha alemão Daniel Schlaipfer a entristecer-se se não comesse este misto de marinada, ceviche, sushi, carpaccio e douradinho de atum. Ou se não reparasse na frase do poeta (“amor é fogo que arde sem se ver”) inscrita no barquinho de papel onde estão quatro crocantes tostinhas.
Mal sabia eu que a seguir, escondido num tachinho de ferro preto, arrumado dentro de uma enorme amálgama preta e no meio de berlindes e pérolas, haveria de comer um divinal risotto negro. Além de o choco estar no ponto exato de cozedura, a cebola frita que espalharam por cima deu-lhe o crocante ideal. O peito de frango com soufflé de brócolos e batata doce também cai bem, mas, para dizer a verdade, faz melhor aos olhos do que ao estômago. Se puder, escolha o Pérola Negra. A dourada com legumes grelhados não passou pelo crivo, apenas por soar mais banal.
Não sou de sobremesas, mas se elas estão incluídas no menu não há como deixar de prová-las. O hambúrguer doce fica mesmo bem na fotografia, mas não deixa grande memória no palato. Tem pão com sementes de sésamo preto, chocolate e avelã lá dentro a fingir que é carne, tiras de ananás embrulhadas em papel como as batatas fritas, coulis de manga e morango a fazerem-se passar por mostarda e molho de tomate, e ainda um ovinho de leite creme. A outra opção, com o nome sugestivo de Whaam Kaboom Pow, onomatopeias usadas por Batman, traz à mesa uma enorme bola de chocolate com um mesclum de frutos dentro, para cima da qual se deita molho de baunilha quente até que ela “explode”. Como se esta bomba (é mesmo assim que lhe chamam) ainda não bastasse, ela faz-se acompanhar por um gelado.
O vinho a copo, essencial para ajudar a digerir esta refeição, a água e o café ficam de fora dos vinte euros do menu. Mesmo assim, apetece passar o resto da tarde neste elegante espaço que liga diretamente ao hotel Sofitel. De preferência a ouvir algum artista a dedilhar no piano de cauda que está ao alcance dos meus olhos. Mas devo partir para outra. E afinal, só preciso de pensar que… amanhã há mais.
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