Uma nova investigação realizada por duas equipas de investigadores portugueses revelou que a presença de “células velhas” da pele – designadas por senescentes – pode acelerar o processo de envelhecimento de outras partes do corpo, incluindo o cérebro. O estudo foi realizado por uma equipa do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra em colaboração com o Laboratório de Envelhecimento Celular e Molecular da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, liderado pelo investigador português João Passos.
“Esta investigação constitui a primeira evidência direta que células senescentes na pele podem acelerar o envelhecimento noutras partes do corpo. Sugere, portanto, que a senescência de células da pele pode contribuir para efeitos generalizados de envelhecimento”, pode ler-se num comunicado feito pela Universidade de Coimbra. As conclusões do estudo foram publicadas sob a forma de artigo científico na revista Aging Cell, no início de outubro.
Para o estudo foram analisados os efeitos negativos que as células senescentes – que se acumulam à medida que os órgãos envelhecem – tiveram no organismo de uma amostra de ratinhos jovens. Segundo os investigadores, a presença destas células na pele levou à diminuição da capacidade de memória e da função musculoesquelética dos ratinhos e ao aumento da fraqueza física.
Os cientistas conseguiram observar ainda que parte do cérebro – nomeadamente o hipocampo – também foi afetado por estas células. O hipocampo é a região cerebral em que ocorrem funções cognitivas e o processamento da memória. “Estas reações indicam que houve uma ligação entre as células envelhecidas na pele e o cérebro”, disse Cláudia Cavadas, líder do grupo de investigação em Neuroendocrinologia e Envelhecimento, à agência Lusa.
A Universidade de Coimbra defende que a descoberta abre “novas possibilidades de investigação” que visem atrasar o processo de envelhecimento do corpo humano e que explorem “novas estratégias que visem eliminar ou neutralizar aquelas células na pele, com o objetivo de reduzir os seus efeitos sistémicos no envelhecimento do organismo”, explicou Passos.