Não é apenas uma sensação ou uma ideia isolada. As redes sociais lançaram o debate e agora os especialistas confirmam: sim, a geração Millennial e a geração Z não estão a envelhecer da mesma forma.
“Por que a geração Millennial não envelhece” é atualmente uma trend no TikTok, com alguns vídeos a terem milhões de visualizações. Reflexo de um debate que chega também à rede social X, ao Quora e ao Reddit, espaços onde há verdadeiros debates para esta suposta diferença entre Millennials e Gen Z. Os utilizadores destas redes comparam celebridades das duas gerações e chegam à conclusão que muitas da geração Millenial, atualmente entre os 30 e 40 anos, aparentam serem mais jovens do que realmente são. Em contrapartida, analisam famosos da Geração Z, muitos deles na casa dos 20 anos, e dizem que estes parecem mais maduros e mais velhos do que a idade biológica indica.
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Perante este debate, vários especialistas em dermatologia e cosmética foram chamados a analisar as diferenças entre o grupo de pessoas que nasceu entre 1981 e 1996 e o que nasceu entre 1997 e 2012. Segundo estes profissionais, as duas gerações estão mesmo a envelhecer de forma difrente e tudo está relacionado com vários fatores que, combinados, apresentam esultados diferentes. Estamos a falar de um novo padrão de beleza, diferentes hábitos de vida, o maior consumo de redes sociais, novos cuidados estéticos e até abordagens distintas à utilização de maquilhagem.
A influência das redes sociais
A geração Millennial foi a primeira a crescer online e a Gen Z a primeira a consumir redes sociais desde a infância. Nesses espaços, o internauta tem acesso a uma infinidade de conteúdos colocados por outros utilizadores, o que provocou o aparecimento de um novo ideal de beleza, diferente daquele que era desejado anteriormente. Agora, ambiciona-se uma aparência jovem, mas com traços mais maduros.
Para o médico Joney de Souza, referência na medicina estética em Londres, esta diferença poderá ter levado o grupo mais novo a desenvolver mais inseguranças e a procurar mais tratamentos. Afinal, as redes sociais também apresentam uma vasta informação sobre cosméticos, procedimentos, tendências e cuidados. Para o especialista, isto “significa que a Geração Z está a experimentar mais tratamentos estéticos e a prestar mais atenção aos ingredientes vitais para a saúde da pele e anti-envelhecimento”. Contudo, tal nem sempre é benéfico, uma vez que as escolhas feitas com base nos conteúdos das redes sociais podem não ser adequadas ou apropriadas. “Estão a receber tratamentos estéticos em idades mais precoces, incluindo preenchimentos e até mesmo cirurgias plásticas, que muitas vezes podem distorcer a aparência, a fim de alcançar a ambição irreal de corresponder a um ideal cheio de filtros”.
Maior procura de procedimentos estéticos pela Geração Z
Rasha Rakhshani-Moghadam, médico especializado em cosmética no Reino Unido, explica que a Geração Z é mais preocupada com intervenções estéticas do que o dos Millenials. “O uso excessivo ou a aplicação desnecessária de preenchimentos e toxinas em idade jovem pode afetar o desenvolvimento natural do rosto, o que faz com que os pacientes mais jovens pareçam mais velhos do que são”, diz, referindo-se a uma tendência crescente entre as pessoas atualmente com menos de 30 anos.
Ross Perry, diretor médico de clínicas de cosmética localizadas na Austrália, concorda que a Gen Z procura procedimentos estéticos desde muito cedo.“Não é incomum ver jovens de 18 anos com preenchimento labial”, destaca. “Os jovens de 20 anos usam Botox, preenchimentos, maquilhagem semi permanente nas sobrancelhas e lábios, que, quando combinados, podem envelhecer a aparência. E quando se começa a seguir esse caminho, é muito difícil voltar a ser totalmente natural”, continua o especialista que acredita que esta procura é uma consequência dos que os jovens consomem nas redes sociais e nos novos modelos de beleza que querem seguir.
Já Amish Patel, especialista em cuidados com a pele britânico, alerta que existem escolhas estéticas que retiram a juventude. “A tendência exagerada de bochechas e lábios cheios distorce o rosto e esconde a juventude natural que existe aos vinte anos”.
Também a médica Sophie Shotter, diretora da clínica Skin Clinic em Londres, destaca que muitas das intervenções procuradas por clientes que pertencem à Gen Z não deviam ser usadas antes dos 30 anos. “Há poucas pessoas abaixo dessa idade que podem beneficiar, por exemplo, de injeções para prevenir o aparecimento de rugas”, diz a especialista, salvaguardando que é sempre preciso analisar cada caso. Ainda assim destaca que fazer tais procedimentos pode originar “uma aparência mais velha, quase que como uma máscara”.
A prevenção dos Millennials
Enquanto a Geração Z parece preferir uma abordagem mais invasiva, os Millennials são conhecidos por optarem por práticas preventivas. “A geração Millennial geralmente tem uma maior consciência dos cuidados com a pele e da dieta, em comparação com as gerações anteriores, muitas vezes incorporando uma abordagem mais holística ao bem-estar”, enaltece Rasha Rakhshani-Moghadam, que diz que esta geração se encontra mais informada do que as anteriores quanto à necessidade de prevenção, mas não está a ser inundada como as gerações que se seguem quanto à necessidade de seguir um regime de skin care (cuidados com a pele). “Podem ter sido uma das primeiras gerações a ter acesso e disponibilidade a melhores produtos para a pele, e com rendimento para comprá-los”, diz Sophie Shotter.
Estamos a falar de uma geração que foi incentivada a praticar um estilo de vida saudável. O médico Glyn Estebanez, fundador das clínicas Prima Aesthetics no Reino Unido, explica que “os Millennials são conhecidos como a geração que se interessa pela saúde e bem-estar, que tem uma alimentação saudável e pratica exercício”.
Uma alimentação rica em vegetais, pobre em açúcares, um estilo de vida sem tabaco e que privilegia o exercício físico, combinados com uma rotina de autocuidado e uso de protetor solar regular parece surtir efeito se o objetivo é manter uma aparência jovem durante mais tempo. “Isto tem um impacto extremamente positivo na saúde da nossa pele e, portanto, na aparência”, remata Shotter.
Produtos mal aplicados
Em cima, dissemos que as redes sociais, fortemente consumidas pela Gen Z, fornecem vasta informação sobre os cuidados de pele, e também referimos que os Millennials aplicam a prevenção de forma mais correta. O que está então a falhar na passagem de mensagem para a população com menos de 30 anos? Ao que parece, muita informação não significa boa informação.
“É boa ideia iniciar um regime de skin care desde a adolescência, mas os produtos utilizados devem ser direcionados não apenas ao tipo de pele, mas também à idade”, diz Ross Perry, especialista em pele. “’Por exemplo, o retinol [vitamina A] não devia ser usado aos 20 anos, pois é muito agressivo para a pele jovem, causa irritação e pode danificar a pele no futuro”. Produtos que anunciam propriedades antienvelhecimento, efeito redutor de rugas, iluminador e reafirmante podem ter principios ativos não indicados para peles mais jovens. Perry lamenta que as campanhas de Marketing promovam produtos com este composto junto do público mais jovem.
Sendo assim, Sophie Shotter explica que os adolescentes deveriam começar uma rotina de cuidados “muito simples”, para criarem o hábito de “limpar, hidratar e usar protetor solar”.
Hábitos diferentes
Está já explícito que Millennials e Geração Z podem apresentar ideais diferentes, que acabam por se refletir em estilos de vida distintos. Amish Patel, médico premiado na área da estética e especialista em cuidados com a pele, diz que os hábitos se refletem na aparência: ‘Sabemos que as escolhas de estilo de vida têm um impacto no processo de envelhecimento – fumar, beber álcool em excesso, seguir uma dieta pobre, não usar drogas. Tudo afeta a pele”.
Segundo Sophie Shotter, a Geração Z apresenta “tendências de estilo de vida e beleza que envelhecem prematuramente a pele”. “Fatores como o consumo de álcool, o uso de tabaco e cigarros eletrónicos, ou o maior consumo de alimentos processados têm impacto na pele” e estão a aumentar entre o grupo de pessoas atualmente na casa dos 20 anos. “Algumas pessoas também acreditam que o stresse é um fator de envelhecimento prematuro, juntamente com o facto de a Geração Z ter sido a primeira geração a crescer com a Internet e as redes sociais, por isso normalmente passa mais tempo em frente aos ecrãs do que as gerações anteriores. Um estilo de vida mais sedentário, com menos ar fresco e exercício, como resultado disso também pode ser um fator.”
Por fim, as duas gerações em análise têm uma abordagem diferente à maquilhagem. Se a opção dos Millennials pode passar por um visual mais natural, a da Geração Z prefere o efeito glamoroso, até mesmo em ocasiões mais informais. Assim sendo, o peso dos contornos, das tonalidades ou a forma como os produtos são aplicados podem sugerir uma aparência menos jovem do que o seu portador.
O que esperar das próximas gerações?
Não podemos prever o futuro, mas os especialistas em dermatologia e cosmética dizem que as gerações que sucedem os millennials e a Gen Z já demonstram uma grande preocupação com a aparência. Sim, falamos de jovens com menos de 13 anos que já têm na sua rotina cuidados de skin care.
“Começamos a ver cada vez mais crianças a partir dos nove anos a irem a consultas de dermatologia”, admite Jessica Weiser, dermatologista de Nova Iorque, EUA. A especialistas diz que muitas vezes estas iniciativas partem da família que quer fazer com que os jovens percebam que estão a ter cuidados desnecessários e até prejudiciais para a saúde da pele. Weiser explica que estas crianças se sentem influenciadas pelas redes sociais a terem certos comportamentos ou cuidados para alcançarem a beleza ideal, sem terem a noção de que os conselhos que ouvem não são adequados à sua faixa etária. A médica diz mesmo que já assistiu a casos de jovens que provocaram danos irreversíveis à própria pele.
Jodi Ganz, a dermatologista de Atlanta, EUA, explica que o adolescente comum apenas precisa de usar diariamente um produto que limpe a pele, um hidratante leve e protetor solar, e que estes produtos podem ser de marcas mais acessíveis disponíveis em supermercados. Já para casos de acne mais grave, é recomendado aconselhamento pessoal junto de um especialista.
Produtos com ingredientes antienvelhecimento não são recomendados. Javon Ford, químico que trabalha na indústria cosmética em Los Angeles, EUA, explica que nenhum estudo demonstrou que o uso precoce destes produtos ajuda na prevenção do aparecimentos das primeiras marcas de envelhecimento, como rugas ou até linhas de expressão.
Para a psicóloga Becky Kennedy, fundadora do site norte-americano “Good Inside”, a fixação de uma criança com os cuidados de pele pode estar a mascarar “vulnerabilidades de saúde mental”. Explica que a preocupação com a aparência não é preocupante, mas que isso ganha outros contornos quando o jovem reage de forma obsessiva.