Vários estudos e especialistas do sono têm reafirmado, ao longo dos anos, os efeitos negativos para a saúde de adiar o despertador de manhã (ou snooze, o termo em inglês que se popularizou) já que podemos voltar a “cair” num novo ciclo de sono, levando depois a um segundo despertar com a sensação de não termos dormido o suficiente.
Já em 2016, Robert S. Rosenberg, diretor do Centro de Transtornos do Sono do Arizona, EUA, rejeitava totalmente a opção de carregar no botão de snooze, já que se “fragmenta o sono adicional, que acaba por ser de pouca qualidade, e incita-se o corpo a começar um novo ciclo sem tempo suficiente para o completar.”
Adiar o alarme pode, de acordo com os especialistas, criar um estado conhecido como inércia do sono, que acontece quando se acorda, de forma repentina, de um dormir profundo, provocando desorientação e sonolência, e pode afetar a atenção, a memória e o tempo de reação.
Um novo estudo realizado por investigadores suecos vem, agora, descontruir esta ideia, ao afirmar que, afinal, carregar no snooze algumas vezes pode não ter impacto na qualidade do sono.
Pelo contrário, diz a equipa, adiar o despertador algumas vezes durante 30 minutos pode ativar, para algumas pessoas, o seu estado de alerta mais rapidamente em comparação com dormir-se de forma seguida.
Em entrevista à NBC News, Tina Sundelin, professora de psicologia da Universidade de Estocolmo, na Suécia, e uma das autoras do estudo, explicou que adiar o despertador ao longo de 30 minutos de manhã “não nos deixa mais cansados ou com maior probabilidade de acordarmos de um sono profundo”, podendo até “ser útil para despertar”.
A equipa distribuiu questionários que foram respondidos por mais de 1700 adultos relativamente aos seus hábitos matinais, e chegou à conclusão de que 69% deles carregavam no botão de snooze algumas vezes, principalmente durante a semana. Deste grupo, cerca de 60% afirmou que, “na maioria das vezes” ou “sempre”, adormecia entre alarmes.
Os investigadores perceberam também que os entrevistados que dormiam entre alarmes tinham maior probabilidade de ser, em média, seis anos mais novos do que os que não adormeciam e quase quatro vezes mais probabilidade de serem “noctívagos”.
Apesar disso, a equipa concluiu que os participantes do inquérito que usavam o botão de snooze para adiar os despertadores também tinham três vezes mais probabilidade de relatar sonolência ao acordar.
Adiar o despertador pode desenvolver habilidades cognitivas. Mas…
De acordo com o estudo, publicado no Journal of Sleep Research, o principal motivo que leva as pessoas a adiarem o despertador algumas vezes de manhã é o cansaço, que não lhes permite acordar, mas também a possibilidade de se acordar de forma mais suave.
Na segunda parte da investigação, a equipa recrutou cerca de 30 pessoas com idade média de 27 anos e sem qualquer distúrbio do sono, com o hábito de adiarem os despertadores de manhã algumas vezes por semana, para que passassem várias noites num láboratório do sono.
Estes participantes foram, então, instruídos a testar dois métodos para despertar, ou imediatamente após o alarme tocar ou 30 minutos depois, adiando o despertador três vezes. Todos os participantes passaram o mesmo número de horas na cama, explica a equipa.
As conclusões dos investigadores foram que as pessoas do grupo que adiou o desperador dormiram, em média, menos seis minutos relativamente às do outro grupo, mas que a estrutura geral do sono foi a mesma.
No que diz respeito às capacidades cognitivas dos participantes, a equipa realizou avaliações logo a seguir aos participantes saírem da cama e 40 minutos depois.
O grupo de participantes que tinha adiado o despertador registou melhores resultados em testes cognitivos, na resolução de problemas matemáticos e nos tempos de resposta e reação no momento logo após o despertar. Contudo, a vantagem não foi a mesma 40 minutos depois, revelou a equipa.