Os parlamentares cristãos rondam os 87%, enquanto a população cristã está nos 62%, em contraste com o início dos anos60, quando nove em cada dez adultos dos EUA se identificavam como cristãos, segundo a Gallup.
De entre as religiões representadas no congresso, por 461 parlamentares, a maioria é protestante (295) todavia são menos oito do que na legislatura anterior. Em 1961 chegou a haver 398 membros ligados ao campo protestante, mas houve menos de 300 protestantes em seis das últimas nove sessões na última década e meia. Deste o maior grupo é o dos baptistas (75), seguido de metodistas (26), presbiterianos (26), episcopais (22) e luteranos (19).
O congresso conta ainda com 150 católicos e 9 mórmons, 32 judeus, 4 muçulmanos, 4 hindus, 3 budistas e 3 unitaristas universalistas. Depois ainda há os congressistas inquiridos que não identificaram a sua filiação religiosa (21) ou não puderam ser contactados.
O instituto de pesquisa CQ Roll Call, uma editora de Washington DC, que acompanha de perto o Congresso há décadas, citado pelo Pew Research Center, não inquiriu os congressistas sobre as suas crenças ou práticas, solicitando-lhes apenas a filiação religiosa e, depois, comparou os dados recolhidos com as pesquisas nacionais sobre a população americana.
Conclui-se assim que a nova composição do congresso americano é mais religiosa do que a população do país. Acresce que 28% dos americanos (quase 3 em cada 10) serão ateus ou agnósticos, portanto sem filiação religiosa, ou afirmam que a religião para eles não é relevante, quando menos de 1% dos congressistas se enquadram nessa categoria (3), 2 democratas e 1 republicano. Apesar de estes cidadãos, conhecidos como “nones”, terem vindo a aumentar rapidamente (passaram de 16% em 2007 para 28% de acordo com os últimos estudos), a sua representação no Capitólio continua a ser irrelevante.
A análise dos membros do congresso, que iniciou recentemente uma nova legislatura, se efetuada do ponto de vista religioso pode parecer uma perspetiva estranha, mas apenas para quem não conhece a sociedade americana. A acelerada secularização da Europa – fenómeno a que os EUA não fogem, mas onde é muito mais lenta – funciona como cortina de fumo que impede uma visão clara neste caso. Com efeito, enquanto o continente europeu acedeu à modernidade através do secularismo, a América fê-lo através da religião. Apesar de a separação entre estado e religião ser igualmente uma marca institucional americana, a verdade é que aquela sociedade ainda é marcada profundamente pelo fenómeno religioso, ao contrário da Europa.
O excesso de representação dos cristãos – representação indireta, é claro! – do ponto de vista religioso no congresso, resulta da antiga ideia de que os cristãos precisam de estar nos corredores do poder para o influenciar e não deixar a outras orientações religiosas esse papel.
Billy Graham foi chamado o “pastor da América” devido à sua persistente notoriedade e integridade a toda a prova, tendo desempenhado as funções de conselheiro de inúmeros presidentes na Sala Oval, décadas a fio. Um dia propuseram que se candidatasse à presidência dos Estados Unidos, coisa que ele recusou de imediato, afirmando que não estava disposto a trocar a sua função religiosa por uma posição política que, por muito prestigiante que fosse, era em seu entender muto menos útil e relevante para o seu propósito de vida.
A experiência mostra, e facilmente se conclui, que não é por estarem mais ou menos congressistas cristãos sentados no Capitólio, ou em qualquer parlamento do mundo, que o país passa a ser melhor, mais justo e harmonioso. Teoricamente até poderia ser, mas na realidade não é, porque uma vez eleitos passam a meter a ética religiosa na algibeira e a priorizar e atender interesses políticos pessoais e de grupo. O apóstolo Paulo advertia Timóteo na sua segunda carta que lhe terá dirigido (3:1-5) quando falava de homens que, tendo aparência de piedade, negavam a eficácia dela. E pedia-lhe que se afastasse dos tais.
Curiosamente, o fundador da fé cristã nunca se interessou por palácios, centros de poder civil ou religioso, preferindo desenvolver a sua ação no meio das pessoas e para elas, sem distinções. Jesus Cristo não virava costas aos ricos e poderosos como Nicodemos ou o jovem rico, mas nunca se deixou prender pelos seus interesses específicos. Veio para todos, morreu por todos e oferece salvação universal a todos, independentemente da cor da pele, extrato social, género, idade, linhagem, condição política ou cultura.
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