Nesta terça-feira, António Guterres proferiu palavras que me envergonham enquanto português e enquanto defensor da paz.
O ainda secretário-geral da ONU disse que era “importante reconhecer” que a carnificina de 7 de outubro contra milhares de israelitas, perpetrada pelo bando terrorista Hamas (sim, o bando que desmembrou bebés, num registo de atrocidades sem precedentes no terrorismo islâmico fundamentalista), “não aconteceu do nada”, aludindo a uma “ocupação sufocante” do povo palestiniano durante 56 anos.
A indignação de Israel foi rápida e compreensível. Pela minha parte, compreendo e subscrevo essa indignação.
A política e a diplomacia foram duas invenções do Homem para se conseguir acabar com o derramamento de sangue nos conflitos entre povos. Claro que nem sempre se conseguiu acabar ou impedir as guerras. A dinâmica bélica foi continuando a acontecer. Por isso, o Homem inventou outra coisa: as leis da guerra. Uma das mais conhecidas é a Convenção de Genebra.
O propósito principal das leis da guerra é a proteção dos civis. Porém, atacar civis é o mote principal das organizações terroristas que não querem saber de leis, nem tratados, de moral, nem ética. No fundo, não querem saber de civis. Querem apenas obter resultados através do terror.
Quem atacou Israel, no dia 7 de outubro, foi uma organização terrorista, com o apoio de países que financiam o terrorismo. Independentemente da posição de partida de cada um (pró-palestiniano ou pró-israelita), condenar, sem reservas, os ataques de 7 de outubro é o mínimo que se exige. Sobretudo para quem quer ser um garante da paz e de uma via que torne como imprescindível a resolução pacífica dos conflitos. Tudo o mais, com leituras e relativizações, fortalece o Hamas, cuja ação prejudica sucessivamente a causa palestiniana de forma, porventura, irremediável.
Em qualquer conflito, queremos um Secretário-Geral da ONU com a lucidez e a equidistância necessárias para ter crédito enquanto mediador. Ora, António Guterres não teve nem uma coisa nem outra: apenas insultou um lado para cair nas boas graças do outro.
No fundo, Guterres mostrou padecer daquela insultuosa mania de culpar a vítima pelo ataque que sofreu. Como se o foco deixasse de ser o comportamento ilegítimo do agressor e se passasse a julgar o agredido.
Numa inesperada tentativa de captar a simpatia de um quadrante social e de um grupo terrorista, António Guterres normaliza toda a violência contra Israel.
O Secretário-geral da ONU nem sequer pode dizer, em sua defesa, que “deu uma no cravo e outra na ferradura” para se poder sentar à mesa com ambas as partes. Porquê? Porque o Hamas não se quer sentar à mesa. Quer, apenas, a aniquilação de Israel. Não quer soluções pacíficas, porque não aceita o conceito de coexistência.
Guterres sabe disso e não o podia ignorar. A esquerda sabe disso. A mesma esquerda que gosta de estar do lado contrário dos Estados Unidos da América. A esquerda que, só por vergonha, condenou os atentados do 11 de Setembro, mas que continua a dizer que a culpa é da política externa norte-americana. Como a esquerda que gosta de desculpar agressores quando a vítima é rica, branca, “privilegiada”. Ou se o agressor for um professor universitário de esquerda.
Muitos portugueses, onde me incluo, ficaram contentes quando Guterres (um português) foi eleito secretário-geral da ONU. Mas, no fundo, sempre soubemos que ele iria levar consigo o pântano em que sempre esteve atolado e atolou o país. Pior ainda para o cenário mundial, Guterres autoexcluiu-se de qualquer possibilidade de vir a ser mediador no conflito do médio-oriente.
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