A expressão é antiga e nasceu nos concertos de Elvis Presley. No final dos espetáculos, para dispersar um público insistente e sedento de mais um encore, os apresentadores anunciavam que a grande estrela já tinha abandonado as instalações. Com o tempo, “Elvis has left the building” tornou-se numa frase da cultura pop.
O recente escândalo – estou a medir bem as palavras – da presença do primeiro-ministro António Costa junto de Viktor Orbán trouxe-me esta velha frase à memória.
Começo por explicar por que razão é um escândalo o facto de Costa ter visto meio jogo de futebol quase de braço dado com a figura húngara. A explicação tem esta simplicidade: porque não era obrigado a isso. Costa quis mesmo fazê-lo. O tema é esse. A outrora figura que merecia repelente e forte ativismo institucional por parte de António Costa, é o mesmíssimo Viktor Orbán que serve para “companheiro de bola” do português.
Se não há interesse nacional declarado que obrigue Costa ao sacrifício de se encontrar com Orbán, só podemos concluir que Costa quis o que teve. Aquele encontro. Aquela conversa. O escândalo, repito, é esse.
Muito se falou e se escreveu sobre a “paragem técnica” do Falcon na Hungria. Futebol, convites da UEFA, abraços não dados a Mourinho, necessidade de combustível, questões de protocolo, etc. Falou-se até das ambições de Costa no palco europeu.
Houve mesmo quem tivesse feito contas ao tempo que Costa pode ter de esperar para bater com a porta na cara do Presidente da República. São tudo conjeturas interessantes, plausíveis e uma delas verificar-se-á. Mas o meu ponto em tudo isto não é qualquer desses.
O meu ponto – já aqui o trouxe há várias semanas – é outro. É que Costa já nem responde. Não se dá ao trabalho de troçar na cara dos adversários, nem de “spinar” junto de jornalistas ou de se fazer indignado perante os portugueses.
Nada! Costa não desmente, não briga, não contra-ataca. Costa simplesmente não responde. Para quem assumiu a sua maioria absoluta, dizendo que não ia ser igual a Cavaco Silva, Costa está a ser o que Cavaco nunca foi: displicente.
A maioria absoluta socialista está a começar como sempre julguei que ia acabar: cheia de si. Inebriada consigo mesma. E incapaz, por esse facto, de ver que uma maioria absoluta não se deve converter em indiferença absoluta. Já aqui o disse e regresso a esta acusação.
Já é impossível disfarçar: se já nem sequer fala, é porque já não quer saber. No fundo, Costa has left the building.
Estamos no tempo dos piores. Este é o pior PS de sempre, porque não consegue pôr em
Circunstância alguma o país adiante do partido; esta é a pior maioria absoluta de sempre, porque nasceu cansada; este é o pior governo de sempre, porque não se encontra rasgo qualquer de competência em lado nenhum; e este é o pior Primeiro-Ministro de sempre, porque não pretende governar – apenas manter-se.
Para bem de Portugal, é bom que António Costa regresse ao edifício, antes que ele comece a desmoronar. Falo do edifício democrático, que cada vez se corrói mais por desistência dos portugueses, fartos de maus exemplos.
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