Começaram as Jornadas Mundiais da Juventude e Portugal encontra-se preparado para receber uma das mais carismáticas figuras da atualidade. Diria mais, Jorge Maria Bergoglio, o bom hincha de San Lorenzo, o argentino que, como a maioria destes, tem gosto pelo tango e se encontrou vocacionalmente no serviço aos mais desamparados, não surge apenas como luz em tempos de escuridão. O Papa Francisco, como assim quis ser conhecido no início do seu pontificado, surge como referência maior numa sociedade conturbada, onde a propensão para beneficiar a comunidade, enquanto coletivo que abriga e potencia cada um, se desmorona.
A sua vinda a Portugal não deve ser encarada como mero cumprimento de calendário. Francisco tem marcado o seu pontificado por uma agenda comprometida com as novas e vindouras gerações, como o prova a abordagem profunda que explora na encíclica Fratelli Tutti. É também aí que firma o seu compromisso com um “projeto para todos”, com a promoção das vozes que “se levantam em defesa do ambiente”, preservando a casa comum.
A insurreição reformista do Papa Francisco vai muito além dos seus gestos comoventes, materializa-se na afirmação do fundamental contra a cultura do descarte, na luz da tolerância contra a “sombra de um mundo fechado”, na coragem de correr o mundo, mesmo aquele que tantas vezes é esquecido.
Quer isto dizer que Francisco é mais do que o homem que lavou os pés a 12 reclusos: ele é sobretudo aquele que nos interpela à cultura do perdão e à compreensão.
Na sua proposta ao mundo, Fratelli tutti, o Papa Francisco não se refugia na doutrina do abstrato, é claríssimo a identificar as várias perversidades que atualmente vemos no globo. Debilidades na democracia, na liberdade e na justiça social. Pede-nos que ajudemos a corrigi-las, cuidando “da fragilidade de cada homem, de cada mulher, de cada criança e de cada idoso”, com a mesma solidariedade do Bom Samaritano.
Esta mensagem não é apenas uma declaração poética, utópica, que fica bem a um líder religioso. É mais do que isso: é um mandamento social. É uma instrução clara a todos os católicos e àqueles que, não o sendo, reconhecem nos valores cristãos uma semente para uma sociedade mais solidária, impelindo-os a mudar o mundo, através de uma nova forma de olhar o outro. É um mandamento que pende também – ou especialmente – sobre os católicos com responsabilidades políticas.
Uma “melhor política“, é o que nos pede expressamente Francisco. Atenten-se ao que diz, sem tibiezas, o chefe da Igreja Católica: “Muitas vezes, constata-se que, de facto, os direitos humanos não são iguais para todos. O respeito destes direitos é condição preliminar para o próprio progresso económico e social de um país. Quando a dignidade do homem é respeitada e os seus direitos são reconhecidos e garantidos, florescem também a criatividade e a audácia, podendo a pessoa humana explanar suas inúmeras iniciativas a favor do bem comum”. Se isto não nos interpela a uma nova geração de políticas sociais, nada o fará.
É por mandamentos destes que cresce o entusiasmo em volta de Francisco. O sucessor de Pedro, apesar dos 87 anos, é a referência de que precisamos para mudar o mundo, dia após dia, nos atos da nossa vivência.
As Jornadas estão aí e Francisco está a chegar. Os dias da crítica, do pessimismo e das tentativas de cancelamento terminaram. Começam agora os dias da fé, da esperança e da Juventude.
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