Antigamente, há muito tempo, existia uma matriz de risco para a pandemia, com dois indicadores essenciais – o «R» e o número de contagiados por 100 mil habitantes. Sendo de risco tinha, obviamente, linhas vermelhas. Foi «vendida» aos portugueses como um seguro de vida contra a Covid. E, na verdade, até foi rigorosamente aplicada a todos os concelhos que entraram no vermelho. Estes avançam, aqueles recuam. Mas isso era antigamente, quando a matriz não se aplicava à Região de Lisboa e Vale do Tejo. Calma, agora já é complicado.
Assim como está, esta matriz não presta. É uma chatice. É um incómodo. É irritante. E ainda por cima, na verdade, só tem dois indicadores. São poucos, e mal pensados. Temos de ser sensatos. Criativos. Inovadores. Sim, era uma boa matriz, mas para coisas pequeninas. Longe de Lisboa. Em chegando aqui, não há matriz que aguente com uma região com 4 milhões de habitantes. É óbvio. É claro. É certo. Estamos a falar de metade do país, e para uma dimensão destas tem de se fazer uma nova matriz. Ou refazer. Ou melhorar. Ou improvisar.
E, se necessário, mudar-lhe de nome. Dar-lhe um ar mais positivo. Mais corajoso. Mais aventureiro. Mais arrojado. Lisboa não tem medo do risco, Lisboa arrisca. É isso mesmo. A nova passa a chamar-se «Matriz do Arrisco». Nem sequer é uma grande mudança. Nem uma revolução. Continua a ter a palavra «Risco», mas mais compostinha. A outra dava para assustar os pequeninos, esta já é para adultos. Para coisas sérias.
Estamos todos de acordo. Nem se discute. Está fechado. Vamos lá ver: o «R» bem pode chegar ao 2 que já não assusta, a incidência por 100 mil habitantes – o que é isso para Lisboa? – que cresça à vontade, porque não preocupa. A «Matriz do Arrisco» só tem de ter em conta três critérios: o número de mortes, que até pode ser contabilizada de mês a mês, para não incomodar, os contagiados em enfermaria, sem nenhum problema, e os internados em Cuidados Intensivos, que só serão alarmantes acima dos mil. A isto junta-se uma linha encorajadora: os milhões de doses de vacinas já administradas. Não interessa para o caso se é uma ou duas doses. Passa a ser, unicamente, o fantástico número de doses. Isso alivia.
Não sei se o Governo já pensou nisso, mas sugiro simplificar: acabem com a divulgação dos dados diários, e administrem essa dose só de mês a mês, ou, pensando melhor, por trimestre. Juntava-se a matriz e a execução orçamental. E dia a dia só há o número de doses. Aliás, para facilitar, o Governo deveria copiar o contador da dívida americana, que está em Times Square, e mandar fazer um igual para colocar nos Restauradores. Mas não da dívida, Deus nos livre, mas das doses de vacinas. E o nome da Praça até tem tudo a ver com esta restauração. Mudem lá isso, por favor.