Jean Marie Le Pen fará 94 anos a 20 de junho. E queria ver realizado um velho sonho: reconciliar-se com a mais nova das suas filhas, Marion Anne Perrine, mais conhecida por Marine. Pormenor adicional: o velho líder da extrema-direita francesa, fundador da xenófoba Frente Nacional no outono de 1972, tinha a esperança de fazer as pazes com a filha quando ela já se tivesse mudado para o Palácio do Eliseu, a sede da presidência. Os resultados deste domingo deitam por terra as suas pretensões.
Com “apenas” 42% dos votos, Marine não conseguiu impedir a reeleição de Emmanuel Macron e falha, pela terceira vez, a chefia do estado. Apesar da derrota, trata-se de um resultado histórico: em 2017 alcançou 33,90% e, em 2012, 17,90%. O pai, que se candidatou seis vezes ao Eliseu, só uma vez conseguiu ir à segunda volta – há precisamente duas décadas, quando foi humilhado por Jacques Chirac – e, na primeira delas, em maio de 1974, obteve uns miseráveis 0,75%.
Se o destino e a saúde lhe permitirem, o antigo oficial pára-quedista com a alcunha de “menir” tem ainda a esperança de ver uma Le Pen na presidência, a sua neta Marion Maréchal. Caso Marine se reforme politicamente, a sua sobrinha, a quem acusou de traição por abandonar o partido familiar e juntar-se ao mediático Éric Zemmour, pode manter a tradição e a agenda radical da dinastia. Com apenas 32 anos e deputada desde há uma década, Marion já tem a experiência e os contactos para ser bem sucedida nas presidenciais de 2027. A sua tia perdeu duas vezes contra Emmanuel Macron, ela não terá esse empecilho pela frente porque o “Presidente dos ricos” não poderá apresentar-se a um terceiro mandato. Marine soube desdiabolizar e normalizar a Frente Nacional, rebatizando-a como União Nacional, apresentando-se como “candidata da concórdia” e citando vezes sem conta a De Gaulle, o fundador da V República e besta negra de Jean-Marie Le Pen por ter concedido a independência à Argélia. Marion, com as devidas diferenças, com mais ou menos populismo e promessas de grandeur, fará seguramente algo de similar. O (mítico) declinismo e a (sempiterna) cólera da sociedade francesa jogam a seu favor. O próprio general de Gaulle admitia que os seus compatriotas “não sabem fazer reformas, salvo quando fazem revoluções”.