A habitual descontração do Presidente da República português desarmou a comitiva ucraniana que o recebeu nos arredores de Kiev, nesta quarta-feira, 23. Durante a visita a uma trincheira na adeia de Moshchun, construída para fazer face à ofensiva russa logo no primeiro mês do conflito, Marcelo não ficou pela entrada. Entrou, de fato e gravata. “Isto nunca tinha acontecido. É o primeiro que faz isto”, comentou surpreendida, a vice-governadora para a região de Kiev, Lesya Arkadievna, citada pela agência Lusa.
Agachado dentro do túnel, recordou “as trincheiras da Grande Guerra”. “Mostra bem como é, de facto, possível, nos dias de hoje, haver uma desproporção de meios à partida e, no entanto, uma capacidade de defesa e resistência anímica, com sucesso”, notou, à saída, acrescentando que é “sempre diferente de ver as imagens”. O local tem um valor simbólico que supera as fotografias ali captadas e que percorreram o mundo.
Ainda em Moshchun, Marcelo deixou flores e dedicou um minuto de silêncio às vítimas da Guerra que destruiu esta cidade e onde a recuperação ainda é uma miragem. Ao contrário de Bucha, onde se nota a reconstrução, e onde começou a visita presidencial à Ucrânia, que durará dois dias e que coincide com a comemoração do 32.º aniversário da independência do país.
A primeira manhã de Marcelo foi passada entre Horenka, Irpin e Bucha, onde Presidente também depositou um ramo de flores, neste caso, num memorial às vítimas; cruzou-se com habitantes e deixou palavras de conforto. “As vossas fronteiras são as nossas fronteiras e a vossa luta é a nossa luta”, respondeu a uma jornalista ucraniana.
“Portugal tem sido incansável, o Governo e a ministra da Justiça, garantindo que naquilo que depender de nós, estaremos sempre na primeira linha não só no apuramento não só da verdade, mas também no criar condições no que vier a ser o apuramento final seja uma lição para o presente e futuro”, prometeu ainda.
A agenda do presidente – terceira alta individualidade do Estado Português a deslocar-se à Ucrânia, depois de Costa e de Augusto Santos Silva – prevê ainda hoje a participação de Marcelo na cimeira organizada pela Ucrânia sobre a recuperação da Crimeia e uma visita a uma instituição de solidariedade para crianças órfãs. Amanhã, o chefe de Estado vai encontrar-se com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e com o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmygal.
*Com Lusa