Quem viu a versão cinematográfica da peça de Tennessee Williams, realizada por Joseph L. Mankiewicz, não a esquece. É um dos grandes clássicos de Hollywood, de 1959 (a adaptação ocorreu um ano após a estreia em cena), com um elenco de estrelas maiores, como Elizabeth Taylor, Montgomery Clift e Katharine Hepburn. Carlos Pimenta, o encenador desta coprodução entre o Teatro Nacional São João e o Ensemble – Sociedade de Atores, reconhece o poder das imagens projetadas na grande tela.
“O imaginário do filme está muito presente e sobrepõe-se à peça. Houve a necessidade de trabalhar o que são as imagens do cinema e o que são as imagens do teatro”, explica. A obra de Mankiewicz é invocada ao projetarem-se no cenário algumas das suas imagens, de forma abstrata e irreconhecível. Contudo, a interpretação dos atores (Emília Silvestre, Pedro Mendonça, Bárbara Pais, entre outros) prima agora pela economia, a depuração e a contenção. “O filme está marcado pelo seu tempo, sobretudo no acting. Há uma memória que não queremos que seja literal.”
Durante a peça, procura-se saber o que aconteceu a Sebastian naquele trágico verão a que se refere o título, com Violet, sua mãe, e Catharine, sua prima, que o acompanhou nos últimos dias, a defenderem histórias incompatíveis. A primeira está mais interessada em defender a reputação do filho, a segunda em contar os factos que presenciou, por mais tenebrosos que sejam. Quem medeia o conflito é Dr. Cukrowicz, o médico que, com espírito científico e pragmático, procura chegar à verdade, seja ela qual for.
Se há questão que se mantém pertinente na peça, é precisamente esta, a da verdade. “Na era das redes sociais, uma mensagem é lançada, cada um critica, altera, comenta, e a mensagem que chega ao fim dificilmente é a mesma. Há muitos circuitos a construir narrativas, veja-se a quantidade de teorias da conspiração que surgiram durante a pandemia”, aponta Carlos Pimenta. Um espetáculo que recorda que resistir à imposição de discursos é um imperativo.
Bruscamente no Verão Passado > Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > até 27 nov, qua-qui, sáb 19h, sex 21h, dom 16h > €7,50 a €16
