Café Central
Passas do Allgarve
Disclaimer: proponho olhar para o Algarve como região onde problemas presentes em todo o território se revelam com particular clareza. Um espelho do País, não uma realidade à parte
Votar com o dedo do meio
Há um dito que diz “quando um sábio aponta o céu, o tonto olha para o dedo”. Perante um milhão de pessoas a votar com o dedo do meio, há que saber olhar para o céu
Cabelo à lua
Nenhum governo trará justiça e prosperidade ao País sem criar espaço para refletirmos e agirmos sobre o nosso tempo. Sobre a cultura, sobre a ciência, sobre o ambiente, sobre o futuro. Nada disto é matéria de extraterrestres
1% (do debate) para a cultura
Já aqui critiquei o formato dos debates eleitorais. Não compreendo uma grelha televisiva que dá quinze minutos a cada candidato, três perguntas e ala que se faz tarde, e logo oferece horas intermináveis ao comentário sobre o mesmo debate. Alô, futebol? Tudo neste formato promove o espetáculo televisivo, onde uma conversa civilizada será sempre “morna”, aborrecida, e o golpe baixo será “disruptivo”, um pico de audiências
Spotify: toda a música do mundo por 0,002€
Para conseguir pagar um jantar, um artista tem de ser ouvido dez mil vezes. O streaming faz as maravilhas dos utilizadores – eu sou um deles -, oferecendo o milagre de levar no bolso uma riqueza incalculável, o melhor que já se fez na música. Infelizmente, à moda do admirável novo mundo, os verdadeiros autores do trabalho são compensados com a vaga “oportunidade” de estarem expostos numa montra mundial. O mal é que essa grande oportunidade não paga contas
Hot Clube: a Alegria de porta fechada
O Hot é, há décadas, uma instituição incontornável no panorama cultural e artístico nacional - na formação, criação e produção musical - e o seu encerramento é assunto da cidade e do país
Prognósticos só no final do ano
A forma como permitimos que os algoritmos penetrem na nossa vida íntima, do acordar ao deitar, durante as refeições, o trabalho e as pausas, sozinhos ou acompanhados, com informação filtrada e emoções primárias, está a intoxicar-nos
O tio facho, a prima comuna
Sei que, para muitos, lidar com a família é um exercício diplomático de alto risco. Dito isto, acho a generalização deste estereótipo – o tal familiar que tem de ser posto na ordem – sintoma de um processo de balcanização em curso, com o qual perdemos todos
Cultura, o tema fantasma
A ausência de debate em torno daquilo que mais existe de básico – a Cultura, erradamente colada à visão dos camarotes do Teatro São Carlos – condena o País ao marasmo
Futuro? Afuera!
Os populistas modernos aí estão: falam como quem está fora do sistema (por mais que floresçam lá dentro), sem medo da elite (por mais que a elite os financie) e prometem resgatar a “ordem” (financeira, social, os bons costumes) perante uma população cansada
Ninguém ganha nada com isto
Só ganha com este nevoeiro a fação do extremismo. Quem perde é a Democracia. Aqueles que, por não gostarem de António Costa, pensam ter aqui uma boa notícia estão desligados da realidade
O Summit que merecemos
Sem desprimor para a indústria da bifana, acredito que a Web Summit ganharia em tornar-se numa conferência de tecnologia capaz de emancipar o talento e a criatividade a partir daquilo que existe por cá, na ciência, na inovação, na cultura
Miss Humanidade
Se, infelizmente, não é surpresa que a eleição de uma mulher transgénero neste concurso traga à tona o pior do lodo nas caixas de comentários, não imaginei tamanho festival de desumanidade nos canais convencionais
A maioria das pessoas
Tratar esta manifestação como qualquer outra, avaliando-a pelo número de participantes, é não querer compreendê-la. O sufoco daqueles que mais têm sofrido, em silêncio, com a onda interminável de crises dos últimos anos tem disseminado uma revolta que começa a fazer-se ouvir. Estes milhares são, na verdade, milhões de pessoas
Feng Shui para quem não tem casa
A situação a que chegámos resulta da negligência prolongada e de uma fé na ideia de que o mercado se autorregula
Solidão
Individualmente, precisamos de acordar para o mundo à nossa volta: família, amigos, colegas, os rostos que compõem a nossa comunidade. Não adianta “acreditar em nós” se não acreditamos nos outros
Musk e Zuckerberg na Estrada da Ameixoeira
Se a batalha entre Musk e Zuckerberg envolver recuperar o modelo dos velhos duelos de honra (ilegalizado em 1852), onde dois homens se batem de mãozinha na cintura e florete em riste, com testemunhas seríssimas de chapéu e bengala, até que um dos mosqueteiros golpeia o oponente no ombro ou lhe vaza uma vista, por mim pode ser. Com uma condição...
Carta aberta ao sr. Pieter Levels
Os jovens portugueses têm feito de tudo para inflacionar os preços nos centros urbanos. Os sucessivos governos anti-nómadas digitais subiram de tal modo os salários no país que as famílias portuguesas se dedicam exclusivamente à especulação imobiliária. A ironia de Henrique Costa Santos, em mais um Café Central
Desculpe, este kizomba é seu?
O debate sobre as colunas portáteis configura um debate clássico sobre liberdades e os seus limites. Como no tema da liberdade de expressão, tão em voga, acabamos muitas vezes a tê-lo num ping-pong entre quem acredita em liberdades absolutas e quem vê na interdição todas as chaves do Totoloto
Ó meu rico Parlamento Europeu
Sem um esforço pedagógico para promover uma noção ampla da importância do voto, em especial num momento tão decisivo para o futuro das democracias europeias, levar as urnas para a praia não resolverá o problema. Muito menos rezar aos santinhos
Dar cabo da boa esperança
Nos túneis do Metro de Lisboa, onde as obras e a falta de alternativas têm ditado o caos, ecoa a sensação de desprezo por quem cá vive e trabalha todos os dias. O problema não são as obras, que nalgum momento têm de ser feitas. É a negligência