Há peças de madeira, orgânicas e viscerais, imediatamente reconhecíveis do escultor, outras em bronze, de um período inicial da sua carreira, que serão uma surpresa para os visitantes do recém-inaugurado Centro de Arte Alberto Carneiro, instalado na área cultural da Fábrica de Santo Thyrso. Metáfora das águas ou as naus a haver por mares de antes navegados, Sobre um haiku de Baishô escrito em Ise ou Ainda a memória do corpo sobre a terra… os nomes são reveladores das influências (nomeadamente, das filosofias orientais), assim como do horizonte intelectual que enformou a sua obra, expresso nas Notas para um manifesto de uma arte ecológica, que o artista publicou em 1971, onde descreve a profunda relação entre o Homem e a Natureza. A primeira exposição permanente do centro “pretende ser o mais completa possível, com peças que vão de 1965 a 2015, e abranger diferentes momentos, sem ter a intenção de ser uma retrospetiva ou de ter uma categorização por fases”, explica Álvaro Moreira, o diretor.

Natural de São Mamede do Coronado, onde aprendeu o ofício de santeiro, Alberto Carneiro (1937-2017) sempre se manteve enraizado neste território rural, que tanto inspirou o seu trabalho. Defensor da arte pública, a ele se deve a realização de simpósios internacionais em Santo Tirso, cujas peças daí resultantes deram origem ao Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC). Em 2015, por altura da inauguração de uma retrospetiva que lhe foi dedicada, o escultor doou parte do seu acervo artístico – dez esculturas e 50 desenhos – a este município. Mais tarde, os herdeiros doaram a biblioteca pessoal (com 7 500 volumes) e fizeram um contrato de comodato de um espólio com cerca de 1 800 itens (fotografias, desenhos, esculturas, pinturas, estudos e projetos). É com esta totalidade de obras que se fará, regularmente, a renovação da coleção permanente. “Vamos também criar um programa de exposições temporárias, que têm sempre como pano de fundo o trabalho de Alberto Carneiro”, aponta Álvaro Moreira. Performances, teatro, dança, música ou outras expressões artísticas também serão convocadas, pelo serviço educativo, a dialogar com este significativo acervo.

No Museu Internacional de Escultura Contemporânea, também em Santo Tirso, está patente A Natureza em Movimento, exposição temporária que tem por base o espólio artístico de Carneiro, pertencente a Catarina Rosendo, sua viúva, que assina a curadoria.
Centro de Arte Alberto Carneiro > Fábrica de Santo Thyrso > Av. da Fábrica de Santo Tirso, 88, Santo Tirso > T. 252 830 410 > seg-sex 9h-17h30 > grátis