1. Paula Rego /Josefa de Óbidos: Arte Religiosa no Feminino, Casa das Histórias, Cascais
Um dado materialista: Paula Rego/Josefa de Óbidos: Arte Religiosa no Feminino reúne 115 obras da artista radicada em Londres e 21 pinturas da pintora barroca Josefa de Óbidos (1630-1684), reconhecida pelas naturezas-mortas e temas religiosos representados com opulência visual. Um dado inusitado: um encontro entre pintoras separadas por tempo, espaço, universos. Um dado ambicioso: uma exposição realçar os pontos comuns, como o gesto radical da afirmação de individualidade e da valorização do protagonismo feminino (patentes nas suas representações de santas, mártires e peregrinas espirituais) – ou seja, uma coincidência nas preferências quando as artistas representam “heroínas cristãs”, como a Virgem Maria e Maria Madalena, entre outras.
A curadora Catarina Alfaro enumera outros pontos em comum: originalidade das obras, “intensa carga sensualista que ambas imprimem à pintura”, “capacidade imaginativa de reconfiguração das temáticas religiosas”, “atenção ao quotidiano mesmo quando o tema é sagrado” (como a presença da domesticidade em Josefa de Óbidos ou a atenção ao vestuário e mobiliário de Paula Rego). Ou seja, o erguer de uma “tradição própria na pintura religiosa”, em que tudo é vivo e subvertido. Casa das Histórias > Av. da República, 300, Cascais > T. 21 482 6970 > até 23 mai, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > €5
2. Mulheres entre Renoir e Amadeo, Palácio Anjos, Oeiras
Mulheres entre Renoir e Amadeo faz uma panorâmica dos artistas lusos e espanhóis (com duas exceções, uma delas Pierre-Auguste Renoir, com Femme et Jeune Fille dans un Paysage, de 1916) que, na viragem do século, se concentraram numa Paris com mudanças sociológicas, repercutidas na ascensão da burguesia e dos direitos das mulheres. Diz João Mendes Rosa, no catálogo, que se assiste ao “despontar da mentalidade modernista” que abandona representações idílicas e o modelo da “esposa-monja”. A exposição tenta fazer os 360 graus da época: estão lá as meninas de família entregues à leitura e à apanha de flores do campo mas também as raparigas dos bailes (Duas amigas de Antonio Utrillo), as damas em pose encomendada para a mansão e as garçonnes de cigarro na mão nos bares, as mulheres de pescadores e ceifeiras e as aristocratas das caçadas e dos passeios de bicicleta, e também os nus, as freiras, as cocottes, as figuras do folclore… Palácio Anjos – Centro de Arte Contemporânea > Alameda Hermano Patrone, Algés, Oeiras > T. 21 411 1400 > até 14 fev, ter-dom 11h-17h > grátis
3. Objectos em Eterno Colapso, Pavilhão Branco, Lisboa
Nesta exposição, João Ferro Martins sublinha a carga efémera da música e o carácter de artefacto dos seus suportes, e faz um requiem por um mundo em desaparecimento: no passado, recriou máquinas fotográficas e cassetes de áudio em bronze; agora, apresenta um gira-discos produzido com recurso a uma impressora 3D. “Talvez esta tecnologia seja o novo bronze, uma continuação desse momento”, diz o curador Tobi Meier.
Mas há mais: uma sala povoada de altifalantes, evocativa das figuras seminais de Antony Gormley, “metáforas escultóricas” e silenciadas. Objetos dispersos. E uma parede de vinis (do Arquivo de Vanguarda do Staatliche Kunstsammlungen Dresden): Stockhausen, Laurie Anderson, Meredith Monk, grupo Fluxus… Objectos em Eterno Colapso está organizada sem fim nem começo, abrindo-se à interpretação, aludindo aos tempos difíceis, agora vividos igualmente na produção sonora. O som, esse, está “misteriosamente ausente”: a música apenas se imagina, ou ouvir-se-á depois numa edição limitada em vinil, com composições do artista (a lançar pelas Galerias Municipais de Lisboa). Pavilhão Branco > Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, Campo Grande, 245, Lisboa > T. 21 589 1259/ 21 583 0010 > até 24 jan, ter-dom 14h30-19h > grátis
4. René Lalique e a Idade do Vidro, Fundação Gulbenkian, Lisboa
Lalique preferia a luz e a transparência à espessura do marfim e do chifre (sim, eram tempos distantes da consciência ecológica), associando pérolas, rubis e safiras a vidro despolido, trabalhado com finura de relojoeiro. Esse vanguardismo inspirado mudou o conceito da joia – algo testemunhado numa mostra realizada, em 1988, no Museu Gulbenkian (que alberga cerca de 200 peças suas, mercê da amizade que uniu Lalique e Calouste).
Trinta e dois anos depois, esta exposição revela cerca de 100 peças, num percurso cronológico entre a Exposição Universal de 1900 e a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de 1925, realçando tanto a originalidade do joalheiro como a mestria e o vanguardismo do mestre vidreiro que, em 1922, instalou fábrica própria na Alsácia. Lalique queria, então, criar exclusivamente produção vidreira orientada para o consumo alargado. Arte democrática, pois, sempre usando o vidro como “uma espécie de material ‘onírico’.” Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 5A, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 1 fev, qua-seg 10h-18h > grátis
5. Génesis, Arco da Rua Augusta, Lisboa
Sebastião Salgado já fez várias exposições em Portugal, incluindo a mostra monumental Génesis, em que foram mostradas 245 fotografias originais deste projeto, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em 2015. Desta vez, trata-se de 38 imagens patentes em estruturas de suporte, inspiradas em múpis, alinhadas em duas filas, ao ar livre, junto ao Arco da Rua Augusta – uma solução dita democratizante que reclama uma ideia de “museu ao ar livre”, bem alinhada com o sonho de regresso à normalidade pós-Covid neste ano novo. Aí, poderão ser observadas paisagens sem presença humana, ou retratos de tribos com hábitos ancestrais, estendendo-se da Antártida à Amazónia, de Madagáscar à Sibéria. Arco da Rua Augusta > R. Augusta, Lisboa > até 14 jan > grátis
6. Falso Sol, Falsos Olhos, Galeria Quadrum, Lisboa
Elisa Pône equilibra-se entre o maravilhamento e a subversão; recorde-se os seus trabalhos com fogo de artifício, explodidos em esferas intimistas. Aqui, a artista francesa (residente em Lisboa) expande mais os nossos sentidos, com uma instalação site specific que, diz à VISÃO, questiona fronteiras entre objetividade e subjetividade: “Tudo é posto em causa.” Há instalação (seis altifalantes com cerâmica incrustada libertam sons de pássaros, vento e música eletrónica, desfazendo fronteiras entre interior e exterior), escultura, um robô de discoteca (que responde à atmosfera e ao calor), vídeo (o bailarino Mário Afonso apresenta-se como agente de seguros que aponta, metaforicamente, as fraquezas do espaço) e pintura com bombas de fumo. Peças inéditas que transformam a nossa perceção, a espacialidade e até os limites da galeria (há obras que atravessam paredes). Galeria Quadrum > R. Alberto Oliveira, 52, Lisboa > T. 21 583 0022 > Até 31 jan, ter-dom 14h30-19h > grátis