Sobreviveram às rugas do tempo, às ideologias hippie, grunge e minimalista, ao hiper-realismo contemporâneo. As fotografias da era dourada de Hollywood mantêm fascínio e virtuosismo, superando o estatuto de mera arqueologia da história poderosa da indústria cinematográfica. A intensidade incendiada nos olhos de Marlene Dietrich ou Hedy Lamarr, a leveza do salto coreografado de Fred Astaire de fraque e cartola, a masculinidade sem máculas de Gary Cooper e a energia animal de Marlon Brando, a pose sensual de Rita Hayworth com a estola a pender da mão, o olhar seráfico de Hitchcock? Todos estes retratos eram meticulosamente construídos na “fábrica de estrelas” de Hollywood por um exército de fotógrafos de estúdio, funcionários sem direito a obra autoral mas reais autores da iconografia do glamour, que, ainda hoje, têm herdeiros.
Hollywood Icons: A Fábrica de Estrelas – Fotografias da Fundação John Kobal alinha 161 retratos tirados entre os anos 1920 e 1960, desde o tempo do cinema mudo até à cinematografia do pós-guerra. Já em 2013, a exposição Made in Hollywood revelara imagens da Fundação Kobal, no Centro Cultural de Cascais, mas esta é uma seleção diferente. Escolhidas na vasta coleção do fã que revirava o lixo dos estúdios para obter os desejados registos dos atores e atrizes, estas imagens revelam o trabalho de mais de 50 fotógrafos então anónimos, como Clarence Sinclair Bull (Greta Garbo, olhos baixos, mão no rosto, deusa caída), Elmer Fryer (que captou Bette Davis como uma jovem impossivelmente ingénua) ou William Walling Jr. (autor do famoso perfil de Audrey Hepburn, filtrado pela luz da persiana, na altura do filme Sabrina). Ou seja, formigas de trabalho em mangas de camisa que criavam perfeição em retratos falsamente íntimos, dramáticos ângulos plongée e contra-plongée. Ah, o que eles ensinariam ao Instagram…
Hollywood Icons: A Fábrica de Estrelas > Centro Português de Fotografia > Lg. Amor de Perdição, Porto > T. 22 004 6300 > Até 20 set, seg-dom 10h-19h > €6