Hélder Pina, guineense, tem 56 anos e vive em Lisboa há vinte e dois. A sua postura recolhida e os seus movimentos desajeitados denunciam o pouco à-vontade que ainda tem sob as luzes da ribalta. Quando soube que iria fazer parte de um espetáculo de teatro, alegrou-se, ainda assim, com a perspetiva de “ser ator, ator de verdade, daqueles que aparecem nos filmes”. É à sua volta e de 19 outros lisboetas reais que acontece Todo o Mundo é um Palco, peça encenada por Beatriz Batarda e Marco Martins, nas comemorações dos 150 anos do Teatro da Trindade. São os depoimentos verídicos destas pessoas de nove nacionalidades diferentes (apenas três dos quais atores profissionais), as linhas narrativas a guiar a progressão do espetáculo. “A imagem de uma nova identidade” de Lisboa, “destino de muitos movimentos migratórios, que pressentimos na rua mas que conhecemos muito mal”, como diz Marco Martins, é o que apresentam em cena.
As histórias de vida destes lisboetas, os seus sonhos, memórias e juízos de valor em relação ao que fazem ali em palco são dramatizados em várias línguas (Safira, alemã, é traduzida pela portuguesa Carolina, o bangladeshiano Abdel pelo brasileiro Dewis, por exemplo). Cada ator tem sempre um cuidado quase fraternal em expor, da forma mais eloquente possível, o que corre no íntimo do outro. Há um exercício de empatia que se opera em cena e que se procura também estabelecer com o público através destas histórias de vida, que refletem, afinal, a vivência comum em Lisboa. “Todo o Mundo é um Palco pretende ser uma celebração do Teatro enquanto desejo de identificação com o outro e lugar de transformação, que se serve de todas as formas de tradução para dar voz à memória, ao corpo e à projeção que fazemos de nós no futuro”, concluem os encenadores.
Todo o Mundo é um Palco > Teatro da Trindade > Lg. da Trindade, 7A, Lisboa > T. 21 342 0000 > 17 nov-10 dez, qui-sáb 21h30, dom 16h30 > €10 a €14