O convite a Rui Horta (“irrecusável”, confessou na altura) foi lançado pela Casa da Música em 2012: criar uma coreografia a partir de Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado, de John Cage (um conjunto de 20 curtas peças composto entre 1946 e 1948), precisamente o ano em que se assinalava o centenário do nascimento do compositor norte-americano. “Cage é incontornável para a história da dança, não apenas pela sua longa colaboração com Merce Cunningham, mas sobretudo pela importância das suas reflexões teóricas e consequentes repercussões na história da criação coreográfica contemporânea”, considera o coreógrafo português.
Em Danza Preparata, Rui Horta quis preparar o corpo de uma mulher, o da bailarina italiana Silvia Bertoncelli, tal como Cage preparou o seu piano – e tal como faz também neste espetáculo o pianista Rolf Hind, para a acompanhar em palco. Se Cage usava parafusos, porcas, borrachas e papelinhos para armadilhar o piano e dele retirar outras sonoridades, o coreógrafo recorre a pauzinhos de mikado, adesivos e peças de roupa para aprisionar partes do corpo de Bertoncelli, impondo-lhe obrigações e restrições nos movimentos, em busca de “uma fragilidade pura”. Afinal, defende Rui Horta, também “a vida tem o seu lado de piano preparado: há sempre algum constrangimento no caminho”. Nesta criação, volta a centrar-se na dança, depois de vários espetáculos de difícil classificação. “É um ato de amor, porque, por mais transdisciplinar que seja o meu trabalho, sou um coreógrafo e é o que sei fazer melhor”.
Teatro Camões > Passeio do Neptuno, Parque das Nações, Lisboa > T. 21 892 3470 > 28 nov, sáb 21h > €5 a €30