O novo restaurante Casa da Companhia tem as janelas viradas para a Rua das Flores, mas ao jantar já não se avista a azáfama que faz os dias naquela artéria da Baixa do Porto. Cabem 20 pessoas nesta sala pintada em ocre (a mesma cor das restantes áreas deste boutique-hotel de cinco estrelas, decorado por Paulo Lobo), com uma garrafeira da Real Companhia Velha, em homenagem ao lugar onde funcionou a empresa de vinhos desde o século XVIII, e onde agora o chefe Duarte Batista pretende “deixar memórias” a quem aqui se senta.
À mesa, a refeição tem início com um ritual: limpar as mãos com um oshibori, um toalhete humedecido com óleos essencias como bergamota “que acorda os sentidos para esta experiência”, avisam.
A carta, conta-nos o chefe de cozinha de 34 anos, natural de Alcaide, Fundão, é inspirada nas suas viagens e recordações de infância, como “os assados feitos no forno a lenha depois de a avó cozer o pão” ou o “peixe assado à portuguesa”, feito pela mãe e que agora replica nos molhos.
Apesar de ter nascido no interior centro do País, Duarte Batista confessa gostar da “delicadeza do marisco e da precisão do tempo de cozedura”. Daí lhe ter dado um grande destaque na carta onde cabem o lavagante em manteiga de citrinos, pickles de cenoura e molho de caril (€38), ou o tártaro de carabineiro, abacate e coco (€48). O mesmo acontece com os peixes da nossa costa, de que são exemplo a sopa (com salmonete, robalo, vieira, gamba do Algarve, €21), o linguado a baixa temperatura (€32), o salmonete braseado (€34) ou o arroz de polvo cremoso (€30).
Nas carnes, apostou nas raças portuguesas e nos animais “criados ao ar livre e de forma sustentável”, como o lombo de novilho (€38), a barriga de porco a baixa temperatura (€30), ou o tártaro de barrosã (€27). Em quase todos os pratos, há especiarias (caril, gengibre, paprika) e frutos, como lima ou ananás dos Açores. “Dão mais magia ao prato”, justifica Duarte Batista.
A refeição pode terminar com uma das sobremesas mais doces da carta: chocolate (74%) e crocante de praliné de avelã (€15) acompanhada de um cálice de vinho do Porto, ou não tivesse sido na Casa da Companhia que terá sido delimitada a Região Demarcada do Douro, em 1756. Um lugar de (boas) memórias, portanto.
Restaurante Casa da Companhia > R. das Flores, 69, Porto > T. 22 976 1020 > qui-seg 19h30-22h30