No Porto, não há quem não conheça a Petúlia. Nascida a 25 de maio de 1972, ainda antes da Revolução de Abril, na Rua Júlio Dinis, a confeitaria marca há muito a vida da cidade. “Quando abriu, não havia aqui nada em volta”, aponta Jorge Pinto, 61 anos, um dos quatro filhos do fundador da casa, Ilídio Pinto, 86 anos, que gere atualmente a confeitaria com o seu irmão Eurico, 59 anos.
Em 1972, quando o pai Ilídio – originário de Arco de Baúlhe, Cabeceiras de Basto – decidiu abrir a Petúlia, trazia anos de experiência acumulada na Confeitaria Peninsular, situada próximo daqui, primeiro como empregado de balcão, depois como gerente. A fama no fabrico de pastelaria tradicional (glórias, pastéis de nata, húngaros, fidalguinhos, napoleões…), de salgados (rissóis, croquetes, empadas), de bolo-rei e, mais tarde, também de chocolares artesanais, depressa se espalhou – com o futebol a dar uma ajuda.
Desde os anos 80, com Ilídio Pinto a dirigir a secção de Hóquei em Patins do Futebol Clube do Porto (FCP), “a mesa do canto era palco de tertúlias” entre portistas e dirigentes. “O José Maria Pedroto [jogador e treinador de futebol] inventou um jogo de cartas, o Ricardina, e era naquela mesa que o jogavam. Foi também aqui que foi organizada a candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa a presidente do FCP há 40 anos”, recorda Jorge Pinto. Além de ser palco de tertúlias entre senhores, a confeitaria era o salão de chá das senhoras. Com o passar dos anos, também a pastelaria se foi aprimorando com o aparecimento das natas batidas em chantilly. Surgiram os duchesses, cobertos com morangos e fios de ovos, e criações como a Tarte da Casa (um bolo feito com massa folhada, recheado com chantilly e morangos) que se celebrizou nas festas de aniversário.
A nova empada de tripas e o famoso bolo-rei
Para celebrar os 50 anos da casa – que integra a lista das lojas históricas da cidade, Porto de Tradição – acaba de ser lançada a empada de tripas à moda do Porto. A ideia foi do chefe pasteleiro Filipe Moreira, 38 anos, aqui a trabalhar desde os 18 anos. “Queria assinalar a data com alguma coisa ligada à cidade, fiz umas pesquisas e não havia nenhum salgado feito com as tripas”, conta. O recheio é o mesmo do prato tradicional portuense, cozinhado com mão e tripa de vitela, chouriço e feijão branco. A empada (€1,60/cada) é feita com uma massa que leva banha de porco, farinha, leite e sal, “para ligar com o sabor picante”.
Mas na Petúlia não há receita que ultrapasse a fama do bolo-rei (€18/kg) que, tal como outrora, continua a ser feito todos os dias do ano (exceto a 25 de dezembro e 1 de janeiro, os únicos dias em que a Petúlia encerra). “Em breve, queremos enviá-lo para as principais cidades do País”, revela Jorge Pinto.
Como se faz o bolo-rei, passo a passo
A receita, a mesma de sempre, passa agora pelas mãos do chefe pasteleiro Filipe Moreira. “A massa começa a ser feita às 7 e meia da manhã e demora meia hora a amassar. Descansa uns 15 minutos antes de se envolverem a fruta cristalizada e os frutos secos [feitos por uma empresa para a Petúlia]. Depois, fica mais de duas horas a levedar”, diz. Antes de se transformar em bolo, a massa é cortada em pedaços que não chegam a um quilo. Cada porção é depois transformada num pequeno rolo, fechado em círculo. “Desta forma, a fruta fica mais envolvida na massa”, explica Filipe Moreira. Antes de ir a cozer, durante cerca de 40 minutos, o bolo-rei é coberto com cascas de laranja, pera, abóbora, figo e cereja cristalizadas, e enfeitado com rodelas de ananás.
Todos os dias, saem do forno um a dois tabuleiros de bolo-rei, mas é em dezembro que se atinge o pico da produção com uma média de 10 toneladas. “É uma loucura”, atira o pasteleiro que anda a testar uma rabanada feita da mesma massa. Mas sobre esta nova criação, “prognósticos só no fim do jogo”, palavras sábias de um ex-futebolista. Parabéns, Petúlia!
Confeitaria Petúlia > R. Júlio Dinis, 775, Porto > > T. 22 606 6181 > seg-dom 8h-20h