No dia em que o chefe João Pedrosa arriscar e retirar alguns dos clássicos da ementa terá o caldo entornado no Ibo Restaurante. Podemos antever mesmo uma pequena rebelião por parte dos clientes mais fiéis deste restaurante à beira-Tejo, ali no Cais do Sodré, em Lisboa. “Foram os clientes que fizeram o ADN do restaurante”, explica o chefe. Ao longo de uma década, celebrada em junho passado, João Pedrosa habituou-se a todos os géneros de comensais: os que comem o mesmo prato desde o primeiro dia, os que lhe pedem para fazer o que quiser com os produtos do dia, os que percorrem a carta toda e os que nunca a consultam, só pedem a carta dos vinhos. Por isso, aos pratos clássicos como o caril de caranguejo desfiado (€33), os camarões selvagens à Laurentina (€21), o chacuti de cabrito (€23), a salada de caranguejo e manga (€21), as chamuças com perfume de Goa (€8) ou os camarões panados ao alho e gengibre (€14), João Pedrosa só acrescentou novas criações para serem partilhadas.
No copo já está servido um branco Encruzado da Quinta de Saes, antes de começar o desfile de novidades, um crescendo de sabores até ao final. No ceviche de peixe branco (€16), “um prato bem cítrico, brincámos com ingredientes de Moçambique, como a manga, a batata-doce ou a malagueta”. Numa escala de zero a dez, este ceviche andava pelos 8 no que à malagueta “sacana”, forte ligação à comunidade indiana e goesa, diz respeito. O crocante do milho é o pormenor que nos desvia o paladar do picante.
Para acalmar o palato, as vieiras em molho beurreblanc de lima e tártaro de maçã (€15) são ideais. Das novas entradas passamos para os pratos principais, chamados “pratos de domingo”, quando não se ia à pesca nem à praia, como explica João Pedrosa. Todos servidos em prato de sopa, é com colher e garfo que nos deliciamos com um arroz de garoupa com amêijoas e coentros (€48). “Coentros, limão e caldo”, descrição simples do chefe deste prato que é uma mistura entre uma canja de amêijoas e um arroz de garoupa, a lembrar as tradicionais receitas algarvias dos arrozes de lingueirão.
No prato seguinte, a garoupa é de novo a proteína, mas a repetição impõe-se de tão fresca que é. Lombinhos de garoupa com curcuma e coentros (€23), servidos com arroz basmati do Paquistão, perfumado com cardamomo, chutney de banana e “achar” de manga, a funcionar como pickle. A título de curiosidade, o chefe João Pedrosa partilhou connosco um puré de batata-doce e mandioca, chamado “chima” de Moçambique, um primo afastado do xerém algarvio, mas sem farinha. Este é, sem dúvida, o melhor puré de batata do mundo e arredores. Aveludado, leve, cremoso, guloso. São colheradas de puro prazer, a que alguns poderão chamar gula. A finalizar, uma papaia recheada com requeijão de ovelha, redução de vinho tinto (€8) e um canudo fino de abóbora em massa filo com gelado caseiro de coco (€7) – um contraste interessante entre o quente e o frio, com o doce no ponto certo. Parece simples e é, mas é também muito saboroso.
Ibo Restaurante > Cais do Sodré, Armazém A, Porta 2, Lisboa > T. 96 133 2024 > ter-sex 12h30-15h, 19h30-23h, sáb 12h30-15h, 19h30-1h, dom 12h30-15h30