
Marcos Borga
Estão sempre a aparecer notícias sobre novos restaurantes, ao mesmo tempo que aumenta a frequência com que me perguntam: “onde é que ainda se faz boa comida portuguesa?” Isto acontece, porque a percentagem dos restaurantes de cozinha genuinamente portuguesa tem vindo a decrescer, mas eles ainda estão por aí, com a sua qualidade e o seu caráter. Um exemplo é o Ponto Verde, em Alcabideche, que existe há mais de um quarto de século, sem que eu tenha dado por ele (costumava ir à vizinha Casa do Vítor, que fechou). O lugar é muito agradável com esplanada no pátio interior /jardim, sala aberta para a cozinha e outra para grupos, expositores de pescado, de carnes e de sobremesas, decoração sóbria de gosto rústico, ambiente familiar, por vezes ruidoso, cozinha tradicional portuguesa com evidente frescura dos alimentos e culinária competente.
Ementa muito extensa e tudo o que apresenta é feito “à antiga portuguesa, sem nada de pacote”, como gosta de sublinhar a dona da casa e senhora da cozinha, Judite, de seu nome. Para entrada tem bons croquetes de vitela, pastéis de bacalhau, rissóis de camarão, amêijoas à Bulhão Pato (dose mais cara do que a maioria dos pratos, mas trata-se de amêijoa-boa com preço elevado), camarão cozido e, ainda queijos fresco e seco, presunto pata negra, patê de marisco e outros petiscos costumeiros. Nos pratos principais, a primeira chamada de atenção vai para a açorda de alho e os arrozes de grelos e de tomate que acompanham, por vezes conjuntamente, o peixe frito. Sabem sempre bem os carapauzinhos (que podem ser “jaquinzinhos”, depende da praça), as pescadinhas de rabo na boca ou os filetes de maruca – sim, maruca, não se esconde nem se troca o nome –, a raia frita, os pastéis ou os rissóis com arroz de tomate. Igualmente apetecíveis são os arrozes de tamboril e de lulas, o tornedó de tamboril, a espetada de lulas com gambas, o bacalhau à lagareiro, o bacalhau com natas e os bifes à cortador e à Ponto Verde (vazia, frito, com molho sem natas, mas tão guloso como se as tivesse).
A não perder, também, os pratos com dia fixo: pataniscas de bacalhau com arroz de grelos, à segunda-feira; pernil assado no forno, à quarta; bacalhau no forno ou iscas à calão (em pedacinhos que é só levar à boca), à quinta; ensopado de borrego ou arroz de pato, à sexta; cozido à portuguesa (com breve pausa no verão), ao sábado; e cabrito assado no forno, ao domingo. Boa doçaria caseira com o pão de rala em destaque. Garrafeira adequada. Serviço experiente e dedicado.
Marcos Borga
Ponto Verde > R. João Pires Correia, 229, Alcabideche, Cascais > T. 21 460 2123 / 21 460 2966 > seg, qua-dom 12h-16h, 19h-22h30 > €22