Nas últimas décadas, vários estudos associaram o consumo de “fast food” ao aumento do risco de obesidade e, a longo prazo, ao desenvolvimento de doenças metabólicas e cardiovasculares. Agora, um recente estudo realizado por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) sugere que o consumo de apenas uma refeição de “fast food”- rica em açúcares e gorduras saturadas, mas pobre em fibras – pode ter um impacto negativo imediato no sistema nervoso e resultar num aumento do stress e da inflamação das vias respiratórias.
Para a investigação, publicada recentemente na revista Nutrients, os investigadores compararam os efeitos que uma refeição saudável – com base na dieta mediterrânica – tem nas vias respiratórias e no sistema nervoso autónomo (que regula a resposta ao stress e outros processos fisiológicos) com os de uma refeição de “fast food” – rica em açúcar e gordura. Ambas as refeições possuíam o mesmo valor calórico – cerca de 1.000 calorias – mas valores nutricionais, e porções, diferentes.
De acordo com as conclusões do estudo, as consequências da ingestão de uma única refeição de comida rápida são imediatas, tendo sido possível verificar um aumento dos níveis de stress e uma tendência para uma maior inflamação das vias respiratórias. “O nosso estudo mostra que uma única refeição é capaz de induzir uma resposta rápida do sistema nervoso e de influenciar imediatamente o nosso bem-estar e a nossa saúde”, explicou Diana Silva, investigadora da FMUP e principal autora do estudo.
Por outro lado, um prato de comida saudável teve um “efeito protetor instantâneo” do sistema nervoso. “O sistema nervoso autónomo reage de forma diferente a uma refeição mediterrânica ou à fast food, com as mesmas quilocalorias. A refeição mediterrânica induz uma maior resposta do sistema nervoso parassimpático, protegendo do stress. Pelo contrário, a fast food ativa sobretudo o sistema nervoso simpático, mais ligado ao stress”, refere um comunicado da Universidade.
Uma colaboração da Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação (FCNAUP) e da Faculdade de Desporto (FADEUP) da Universidade do Porto, o ensaio clínico contou com 46 voluntários – com idades entre os 18 e os 35 anos – e incluiu pessoas saudáveis, com excesso de peso/obesidade e com asma. A resposta do sistema nervoso dos voluntários foi medida através de pupilometria – a resposta da pupila à luz, que dilata quando “há uma ativação do sistema nervoso simpático, nomeadamente em situações de stress”, referiu a especialista. Segundo a investigadora, a ativação do sistema nervoso simpático à ingestão de comida rápida é uma resposta involuntária do organismo, que surge em situações de perigo ou ameaça.
Os participantes foram ainda submetidos a testes de espirometria, que mediram a função respiratória dos participantes e a resposta inflamatória das vias aéreas, antes e após cada refeição. Através desta análise foi possível verificar uma tendência para uma maior inflamação com a ingestão de “fast food”.