Há um consenso na comunidade científica quanto à relação entre doenças associadas ao envelhecimento e a composição da microbiota intestinal, que influencia o sistema imunitário e a resistência às infeções, mas pouco se sabe acerca do comportamento desse ecossistema ao longo das várias etapas da vida.
Este ano, uma pesquisa divulgada na revista Nature Microbiology, envolvendo a análise das fezes de centenários do Japão e da Sardenha, trouxe à luz novos dados: comparado com o microbioma de jovens adultos, o dos centenários tinha uma maior quantidade e diversidade de bactérias e vírus. Segundo os investigadores, tal parece estimular a capacidade metabólica do trato intestinal, tornando-o mais apto para manter a mucosa intacta e ganhar resistência a patógenos, prolongando a vida
Já se sabia que os transplantes fecais eram a solução para tratar patologias intestinais severas; porém, há dois anos tornou-se claro que a flora microbiana tem um papel no antienvelhecimento. Nessa altura, um estudo coordenado por Tomasz Wilmanski, do Instituto de Biologia dos Sistemas, em Seattle, nos Estados Unidos da América, mostrou que parte do segredo está na diferenciação crescente do ecossistema microbiano individual, adaptado às circunstâncias do hospedeiro.
Os investigadores encontraram uma correlação entre a diferenciação, que se opera ao longo da vida, e a presença de certos metabólitos, como a fenilacetilglutamina – que costuma ter concentrações elevadas no sangue de centenários – e o indol, um derivado do triptofano, aminoácido utilizado na biossíntese de proteínas, que demonstrou prolongar a vida útil em ratinhos de laboratório.
Os cientistas notaram ainda que esta diferenciação continua a fazer-se nas pessoas saudáveis à medida que envelhecem, mas deixa de acontecer naquelas que não o são. E, a partir da oitava década de vida, essa “falha” pode prenunciar uma morte precoce.

A Ciência do microbioma
O que se passa dentro do intestino há muito deixou de ser motivo de desprezo. Neste território onde vivem mais de cem triliões de microrganismos estabelecem-se complexas interações e processos químicos dos quais depende a sobrevivência humana. Um maravilhoso mundo que não cessa de surpreender os cientistas.
Há grandes avanços na investigação de como o nosso sistema digestivo – e em particular o nosso intestino – é determinante para o nosso bem-estar, não só ao nível do metabolismo, do peso, da imunidade, mas também da saúde mental. É desses avanços e desse entendimento que damos conta na edição da VISÃO Saúde, já nas bancas.
Num dossier de mais de 50 páginas, explicamos porque chamam “segundo cérebro” ao intestino; como podemos reforçar a imunidade ou conhecer os alimentos que nos ajudam e os que nos fazem mal; e falamos das principais doenças do sistema digestivo e dos novos tratamentos disponíveis.
Além do grande tema que faz a capa, temos mais artigos para oferecer. Contamos as histórias de quem sofre com hérnias e de quem encontrou esperança nos novos fármacos para a fibrose pulmomar idiopática. E temos muitas perguntas para fazer aos médicos. Por exemplo: ficamos mesmo mais deprimidos no outono?