Um grupo de investigadores do Hospital Pediátrico de Boston e do Hospital Pediátrico de Rady Children’s Hospital, em San Diego, nos EUA, que pretendiam perceber o que pode estar por detrás da morte súbita em bebés, identificou, a partir de casos ocorridos entre 2004 e 2011, um fator cerebral que pode ajudar a encontrar uma razão para esta morte, até agora inexplicável.
A morte súbita de um bebé, definida por Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) e também conhecida por morte no berço, ocorre quando um bebé morre de maneira abrupta e imprevisível, normalmente durante o sono. É tão assustadora como o seu nome, sobretudo porque as suas causas, apesar de todos os avanços e estudos – e de uma considerável diminuição no número de casos ao longo dos últimos 20 anos –, continuam a ser um mistério.
A SMSL é uma das principais causas de morte dos bebés e acontece, na maioria das vezes, entre os dois e os sete meses de vida, sendo mais comum no outono, inverno e início da primavera, mas a sua definição abrange os óbitos inexplicados até aos 12 meses.
Para o novo estudo, a equipa de investigadores analisou os tecidos cerebrais de 58 bebés que morreram por morte súbita, comparando, depois, essas amostras com o tecido cerebral de 12 bebés que tinham morrido de outras causas, como pneumonia ou doenças cardíacas.
A partir daí, a equipa descobriu que existe um recetor cerebral específico, que faz parte do sistema da serotonina, que auxilia os bebés na respiração profunda. Pelo contrário, detetaram que, em alguns bebés que morreram por morte súbita, esses recetores foram alterados.
A serotonina é um neurotransmissor que atua no cérebro e regula algumas funções involuntárias do corpo, como o ritmo cardíaco, a pressão arterial, o sono, o apetite, a temperatura corporal e a sensibilidade à dor, por exemplo.
Os investigadores explicam que, tendo em conta os resultados, a grande conclusão do estudo é que os bebés que morreram por SMSL eram mais propensos a ter uma versão alterada deste recetor cerebral ligado à serotonina relativamente aos casos de controlo analisados.
Citada pela Sky News, Robin Haynes, principal autora do estudo e investigadora do Hospital Pediátrico de Boston, explicou que os bebés têm, normalmente, durante o sono, uma resposta de proteção que os faz ofegar quando não estão a receber oxigénio suficiente. “Despertam e passam pelo que é chamada de auto-ressuscitação, em que a respiração recomeça”, esclareceu.
O que acontece com um bebé que morre por morte súbita é, segundo a explicação da equipa, que esta resposta pode não entrar em ação devido ao recetor cerebral estar alterado, o que pode prejudicar o fluxo sanguíneo e o fornecimento de oxigénio ao bebé.
Contudo, apesar dos resultados e de a equipa ter identificado o que Haynes denominou como “anormalidades” nesse recetor de serotonina (2A/C), a ligação entre estas anormalidades com a causa da morte súbita ainda não está definida, permanecendo “desconhecida”.
As investigações que relacionam a serotonina com as possíveis causas para uma morte deste tipo não são recentes. Depois de, em 2010, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association ter descoberto uma ligação entre a SMSL e níveis baixos de serotonia no cérebro, uma investigação de 2017 focou-se nos níveis do mesmo químico neurotransmissor, mas no sangue, e concluiu que estavam muitos elevados em quase um terço dos 61 bebés cujas mortes foram classificadas como SMSL.
Esse estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, sugeria que níveis mais elevados ou mais baixos de serotonina, consoante a parte do corpo, podem indicar uma vulnerabilidade que aumenta o risco de morte súbida do bebé. Os investigadores sublinharam, contudo, que testaram apenas os níveis de serotonina, pelo que desconheciam se os 19 bebés com níveis anormalmente elevados do neurotransmissor tinham quaisquer outros problemas em comum.
Apesar de ainda não se saber a causa, os especialistas têm identificados, atualmente, alguns fatores de risco e fatores protetores para esta situação, pelo que convém reforçar alguns conselhos, como colocar sempre o bebé a dormir de barriga para cima, usar pouca roupa de cama, evitar o sobreaquecimento e não colocar brinquedos, fraldas ou almofadas na cama do bebé, por exemplo.