Se fizermos uma breve pesquisa no google acerca do conceito de auto-afirmação, encontramos definições como o “ato de mostrar a sua vontade ou a sua independência”, “de expressar vontades próprias, liberdade e independência, geralmente em busca da aceitação da maioria, do meio em que se vive” ou até a “defesa de pontos de vista, opiniões e direitos próprios”.
Já Claude Steele, que desenvolveu, em 1988, a teoria da auto-afirmação, acredita que podemos manter a integridade pessoal dizendo a nós próprios aquilo em que acreditamos de maneira positiva, sendo que somos motivados a manter visões positivas de nós mesmos. Ao longo dos últimos anos, têm sido realizados vários estudos que abordam este tema, com conclusões interessantes: em 2009, por exemplo, David Sherman e uma equipa de investigadores deu conta de que os atos de auto-afirmação podem ajudar atenuar o stress, prejudicial à saúde. O mesmo investigador já tinha, em 2005, conduzido uma investigação que concluiu que os participantes que se auto-afirmavam tinam “respostas significativamente mais baixas de cortisol ao stress”, comparativamente ao grupo de controlo.
Já em 2014, Richard Cooke liderou um grupo de investigação que analisou 80 jovens e deu conta que, de facto, as pessoas podem melhorar os seus níveis de atividade física caso utilizem atos de auto-afirmação durante os treinos. “Durante o acompanhamento, os participantes com atos de auto-afirmação relataram significativamente realizar mais atividade física, atitudes mais positivas em relação à atividade física e maiores intenções de serem fisicamente ativos em comparação com os participantes que não utilizaram atos de auto-afirmação”, lê-se no estudo.
À partida, este conceito parece fácil de entender, mas não de concretizar ou, pelo menos, da forma mais positiva. Ao The Washington Post, David Creswell, professor de psicologia da Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, Pensilvânia, e investigador deste conceito, explicou que auto-afirmação “é mais sobre identificar, de uma maneira concreta, os tipos de coisas sobre nós que realmente valorizamos”.
Contudo, os atos de afirmação podem tornar-se prejudiciais se não tivermos em conta alguns fatores. Em primeiro lugar, explicam os especialistas, ao invés de se procurar a perfeição, as pessoas devem valorizar-se pelo que são e serem fiéis a elas mesmas, sem fugirem à sua própria realidade e valores. Em entrevista ao mesmo jornal, Natalie Dattilo, psicóloga clínica no Brigham and Women’s Hospital em Boston, Massachusetts, defende que isso é possível “encorajando-se a si mesmo com precisão e autenticidade ou usar palavras de incentivo ou reconhecimento que sejam consistentes com a sua verdade”.
“Vemo-nos melhor através do nosso comportamento do que através dos nossos pensamentos”, refere a psicóloga. E acrescenta: “Quando as escolhas que fazemos estão alinhadas com os nossos valores e as coisas em que queremos acreditar sobre nós mesmos, estamos a avançar nesse continuum de credibilidade”.
Auto-afirmação como autodefesa
Por outro lado, explicam os especialistas, a auto-afirmação pode ficar posta em causa devido a fatores externos, como por exemplo quando recebemos críticas. Por isso, defende David Creswell, os atos de auto-afirmação são, também, uma “ferramenta de autodefesa” para se conseguir lidar melhor com situações ameaçadoras e stressantes do dia-a-dia e que podem provocar desequilíbrio no bem-estar geral.
“[Os efeitos da auto-afirmação] ativam, de facto, o sistema de recompensa do cérebro, e esse sistema de recompensa abafa, de certa forma, o seu sistema de alarme de stress de várias formas que podem ser úteis”, refere o investigador. De acordo com um estudo publicado em 2014, fazer exercícios de auto-afirmação, como por exemplo escrever sobre valores pessoais fundamentais antes de um teste, aumentou o desempenho dos alunos numa escola.
Além disso, Chris Cascio, professor na Universidade de Wisconsin- Madison, em Madison, defende que atos de auto-afirmação envolvem regiões do cérebro associadas à avaliação positiva e ao autoprocessamento. O especialista descobriu, num estudo realizado em 2016, que afirmações relacionadas a “valores orientados para o futuro”, são “muito mais benéficas em termos de o sucesso da afirmação em comparação com o pensamento sobre o passado”. Por exemplo, se uma pessoa ou atividade for muito importante para alguém, planear alguma coisa com essa pessoa ou realizar essa atividade no futuro é mais positivo do que pensar em situações do passado.
Como se pode auto-afirmar
Ao The Washington Post, Steele explica a importância de haver várias dimensões que cada pessoa valoriza na sua vida e não apenas uma, já que, caso isso não aconteça, a pessoa fica vunerável e a sua autoestima passa a depender apenas de uma dimensão.
Por outro lado, Dattilo insiste no conceito de autenticidade e explica que as auto-afirmações devem andar lado a lado com os valores em que se acredita, sugerindo que, para quem pretende começar agora esse processo, se comece com declarações que tenham em conta aquilo em que se quer acreditar. “Quero acreditar que sou suficientemente capaz”, por exemplo, ou “estou a tentar todos os dias pensar mais positivamente sobre mim e sobre as minhas capacidades”. Desta forma, explica a investigadora, estamos a caminhar para aquilo que “queremos realmente fazer, como queremos fazer e como gostaríamos de nos sentir”.
Já David Creswell defende que a auto-afirmação deve concentrar-se em coisas que se ama. “Vai estar a dar a oportunidade de conservar algo que valoriza e aprecia sem sentir que precisa de ter um debate sobre isso na sua cabeça ou escrita”, esclarece.
O mesmo investigador sugere a criação de um diário de gratidão, em que se pode escrever, diariamente, aquilo pelo qual se está grato. “A maioria das pessoas que tenta fazer isto durante duas semanas pode ficar de facto surpreendida com a experiência e como pode haver efeitos inesperados”, defende, acrescentado que uma atividade deste género pode resultar em pessoas a “afirmarem-se de forma mais espontânea.”