Imagine-se a estupefação de quem testemunhou a chegada ao quartel do Regimento de Infantaria (RI) 21, em Nova Lisboa (atual Huambo), de “dezenas de militares portugueses em trajes menores”, como conta o jornalista e escritor António Mateus na sua nova obra, Angola – Vidas Quebradas, já nas livrarias. “Tinham sido desarmados e obrigados a despir e entregar as fardas e respetivo calçado” a uma força da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), de Jonas Savimbi, que os emboscara, ao final da tarde de 17 de agosto de 1975, quando escoltavam, desde o Luso, uma coluna de refugiados, com 200 veículos civis, destinada a evacuação de Angola através da ponte aérea para Portugal, acrescenta o autor.
Como António Mateus dá a conhecer no seu livro, o comandante da unidade em causa, uma companhia de artilharia composta por 100 efetivos, escreverá no relatório oficial sobre o incidente o seguinte: “Assaltaram o Land Rover de transmissões que seguia à frente, junto aos carros ligeiros, não tendo estes possibilidade de alertar o resto da coluna. Aí, dado o elevado número de militares da UNITA, que surgiram de todos os lados, não foi possível resistir. Por outro lado, dada a dispersão de militares em pequenos grupos, espalhados ao longo da coluna, foi impossível reagir. Além disso, dado o elevado número de crianças e mulheres que seguiam na coluna, qualquer resistência nossa provocaria um morticínio total, dado que estávamos emboscados dos dois lados da via por grande número de militares da UNITA.” Lista depois, ao pormenor, o que foi roubado àqueles militares portugueses, além dos camuflados e das botas – 160 G3, mais de 60 mil cartuchos de munições, 800 granadas, 35 dilagramas, dez metralhadoras FBP 9 mm e outras tantas pistolas Walther 9 mm.

