Nas organizações políticas e outras de caráter eletivo, a permanência dos mesmos protagonistas anos a fio na liderança é negativa, uma vez que tendem a cristalizar, por falta de iniciativa e criatividade, quando não por razões mais graves como falta de transparência, amiguismo, nepotismo e mesmo corrupção.
Não foi por acaso que a lei da limitação de mandatos surgiu nas autarquias. É suposto que a vivência democrática no poder local gere novas competências e abrir caminho a novas ideias, protagonistas e equipas, de modo a evitar os vícios do sistema.
Quando temos diante de nós a escolha entre alguém que se candidata ao mesmo cargo público que já desempenhou durante oito, dez ou quinze anos, e que deixa dúvidas em termos de transparência, ou então quem se revelou uma nulidade em termos de liderança e de gestão, e alguém que, sendo de uma nova geração, apresenta ideias, projetos e uma energia contagiante, qual deve ser a escolha inteligente? Premiar quem se agarra desesperadamente ao poder, quem já provou ser incompetente ou quem pode trazer renovação, ar fresco e sangue novo?
As campanhas autárquicas são pródigas nas guerras de comadres que não levam a nada nem resolvem os problemas das populações. Os munícipes merecem muito mais. Embora as suspeitas de abuso de poder ou corrupção não possam ser ignoradas, o que importa entender é se existe uma ideia para o município e que tipos de propostas a sustentam. Quem está no poder e volta a candidatar-se tem a tendência para atirar para o debate com milhões aqui e ali. Pois bem, isso não diz nada às pessoas. Para elas não importa se são tostões ou milhões, querem é ver os seus problemas resolvidos, a sua qualidade de vida assegurada e a afirmação da sua cidade.
Uma boa forma de lançar o voto ao lixo é desperdiçá-lo com formações políticas sem equipa, estrutura ou projeto. A outra maneira de tornar o voto inconsequente é fazer dele uma manifestação de protesto, votando em quem mais grita e faz discurso de ódio, mas que não merece um pingo de credibilidade e nem sequer de seriedade.
Depois há o fenómeno dos trânsfugas. Pessoas que saem dum partido que não lhes faz a vontade e encontram logo aconchego noutro. O Chega está pejado destes oportunistas que apenas pretendem cavalgar a onda populista, que parece estar a dar, até que surja outra oportunidade. Uma vergonha.
Mas os piores ainda são os falsos independentes. Pessoas que militaram anos a fio num partido que depois abandonam, tentando a sua sorte em candidaturas independentes que de independentes nada têm. Como se apercebem que existe alguma frustração no eleitorado com os partidos tradicionais tentam agora vestir o fato de independentes, ainda que nunca na vida o tenham sido. Chegam até a atraiçoar os princípios ideológicos que defenderam toda a vida, em impressionantes golpes de rins, de modo a ir buscar apoios de áreas políticas que sempre combateram.
O imperativo de mudança precisa de ser operacionalizado num voto de futuro, mas com segurança e não no regresso ao passado, ainda que agora esse passado se apresente travestido de outras cores. Tal circunstância faz lembrar a metáfora que Jesus um dia usou, dizendo que remendo novo em pano velho não funciona porque acaba por rasgar o pano e o resultado é ainda pior.
Mas também é de evitar um salto no escuro, embalados pela canção do protesto pelo protesto. Seria uma infantilidade política, seria loucura. A velha estória diz que os ratos, cansados de serem mal governados experimentaram a votar no gato pela primeira vez. Foi o seu fim.
Mas as Escrituras oferecem uma boa metáfora para este caso. Nas palavras de Jesus, o Cristo, é pelos frutos que se conhece a natureza da árvore. E já conhecemos qual é a “fruta” da árvore da extrema-direita em Portugal, uma vasta panóplia de crimes, desde furto de malas no aeroporto, pedofilia, condução sob efeito de álcool, prostituição de menores agravada, injúria, incitamento ao ódio, violação de regras de emigração, dívidas, fraude fiscal qualificada, violência doméstica, burla e furto a casas e igrejas. É mesmo este “gato”, para não dizer “bando de malfeitores”, que queremos a governar as nossas comunidades?
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